Título: Unidos até que as urnas os separem
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2011, Política, p. 2

Na abertura do fórum do PMDB, Dilma e caciques do partido trocam afagos, mas peemedebistas não poupam críticas aos petistas

Um dia depois de demitir mais um ministro do PMDB envolvido em denúncias de corrupção e reclamar que o partido quis lhe transferir a responsabilidade de indicar o substituto de Pedro Novais no Turismo, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o fórum do PMDB sobre as eleições de 2012 para declarar amor ao partido. "O PMDB é um parceiro fundamental em nosso governo e eu só tenho a agradecer pela relação profícua que tenho com meu vice-presidente, Michel Temer", afirmou, num discurso de 27 minutos, o mais longo do fórum. Foi aplaudida 12 vezes.

Os afagos, entretanto, são pragmáticos. O Palácio do Planalto sabe que precisa do PMDB pela força política da legenda, no Congresso e nos municípios. Por seu lado, o PMDB poupou Dilma, mas centra seus ataques no PT. No mesmo fórum onde recebeu elogios, avisou que as eleições de 2012 serão uma guerra e projetou aumentar ainda mais o número de vereadores e prefeitos para preparar o partido para 2014. "Quando, quiçá, teremos candidato próprio a presidente da República", disse o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

Dilma fez a sua parte para não alimentar ainda mais a crise política PT-PMDB. Chegou ao encontro em companhia do vice, Michel Temer. Enalteceu que as quatro bandeiras levantadas pelo partido no fórum de ontem ¿ educação, saúde, segurança e meio ambiente ¿ são essenciais também em seu governo. Agradeceu o empenho e a fidelidade do partido nas votações no Congresso, abstraindo o fato de em algumas matérias, como o Código Florestal, o PMDB militar em um campo diverso do defendido pelo Planalto. "O PMDB sempre é leal quando estão em jogo os interesses do país", completou Dilma.

Coalizão A presidente também aproveitou para criticar alguns setores do PT ¿ sem citar nominalmente o partido ¿ ao afirmar que algumas pessoas defendem um governo de "partido único". "Estamos em um governo de coalizão e sempre vamos fortalecer a democracia, o que reflete a pluralidade e a complexidade da sociedade brasileira", disse Dilma.

O PMDB poupou a presidente dos ataques, mas não fez o mesmo em relação ao PT. Logo em sua primeira intervenção, Raupp atacou uma das propostas debatidas no 4º Congresso do PT, há duas semanas ¿ uma moção de repúdio à imprensa pelos ataques feitos aos cardeais. "O nosso partido defende a liberdade de imprensa desde os tempos do governo militar", completou Raupp. Coube ao presidente em exercício da legenda anunciar que o partido quer ter candidatos próprios em todas as capitais e nas principais cidades brasileiras também.

Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o deputado Eliseu Padilha (RS) ¿ que sempre foi visto com ressalvas pelo governo e pelos petistas por sua afinidade com o tucanato ¿ avisou que o ano que vem será intenso. "Se queres a paz, prepara-te para a guerra", pregou Padilha, que enfatizou a necessidade de a legenda investir na preparação de seus candidatos. "Chegar ao poder sem saber o que isso significa pode ser muito prejudicial para quem chega".

Outro que aumentou o tom belicoso foi o presidente da Frente Parlamentar da Saúde, deputado Darcísio Perondi (RS). Ao expor a visão do partido sobre a Emenda 29, fez um ataque aberto ao partido da presidente Dilma Rousseff, a quem chamou de bonita e simpática. "Por acaso o PT fala do SUS? O partido está quieto, só cuida de ocupar os cargos federais que tem no governo. A bandeira da saúde é nossa."

Até mesmo o presidente do Senado, José Sarney (AP), que elogiou Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelas gestões que mudaram a cara do país, apoderou-se do discurso social. Lula e Dilma orgulham-se de terem aberto espaço para a ascensão de 40 milhões de pessoas para a nova classe média ¿ "uma Argentina", destacou a presidente. Sarney disse que coube a ele, quando foi presidente entre 1985 e 1990, pelo PMDB, romper a monotonia do discurso econômico na política. "Fomos nós que introduzimos a questão social, ao criar o slogan "tudo pelo social"", ressaltou.

Os petistas minimizaram os ataques diretos que receberam. Sentado na mesa diretora do evento, o secretário-geral do partido, Elói Pietá, só foi percebido ao ser saudado por Raupp no discurso de abertura. À exceção do líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) ¿ que ficou sabendo pelo Correio que o fórum começaria à tarde, não à noite, e correu do Congresso para o Centro de Convenções Ulysses Guimarães ¿, nenhuma outra liderança petista compareceu ao evento. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, chegou no comboio presidencial e partiu quando a presidente retornou ao Planalto.