O globo, n. 30055, 20/11/2015. País, p. 4

Relator do processo contra Cunha sofre ameaça e deve ter proteção

 
JÚNIA GAMA E LETICIA FERNANDES

Ao saber da denúncia, presidente da Câmara pede inquérito policial.

O relator do processo contra Eduardo Cunha no Conselho de Ética, deputado Fausto Pinato, diz que ele e a família sofreram ameaças e pediu proteção à PF. -BRASÍLIA- O relator do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), no Conselho de Ética da Câmara, Fausto Pinato (PRBSP), revelou ontem ter sofrido ameaças anônimas.

Em uma reunião fechada no início da tarde, Pinato relatou a um grupo de nove deputados que sofreu ameaças na semana passada e que pediu proteção policial ao governo do estado de São Paulo. Segundo participantes da reunião, Pinato contou que, na quinta-feira anterior, ao retornar de Brasília para São Paulo, seu motorista, que o aguardava no aeroporto da capital paulista, contou ter sido abordado por um homem que bateu no vidro do carro e lançou a ameaça.

— Diga para seu chefe que, se ele for inteligente, ele pode se dar muito bem. Ele não devia mexer com essa coisa de Conselho de Ética, tem uma família tão bonita e deveria preservá-la — disse o homem, segundo os deputados que presenciaram o relato de Pinato. PEDIDO A MINISTRO DA JUSTIÇA O presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), afirmou que pediria à Polícia Federal proteção para Pinato. Na reunião, o relator também afirmou estar recebendo “recados” de diversos lados, até mesmo de grandes empresários. Ele estaria sendo questionado sobre o que pretende fazer no conselho e orientado a “pensar bem” sobre como proceder em relação a Cunha.

Após a denúncia se tornar conhecida, o próprio presidente da Câmara se antecipou a Araújo e solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, instauração de inquérito policial destinado a apurá-la. O ministério informou que o pedido será analisado pela área técnica da pasta para o devido encaminhamento.

No ofício, Cunha solicita ainda que Pinato e seus familiares sejam colocados sob proteção policial. Aliados de Cunha avaliam que o desdobramento dessa denúncia será decisiva para sua situação. Caso seja comprovada, constituirá uma espécie de “atestado de óbito” do peemedebista.

Visivelmente abatido, Fausto Pinato (PRB-SP) se emocionou ao ouvir discursos de solidariedade no plenário do Conselho de Ética. O relator do processo contra Cunha ficou com os olhos cheios d’água quando o deputado Major Olímpio (PDT-SP) discursou elogiando seu trabalho. Em certo momento, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) foi até o relator e o abraçou.

Na saída da sessão, Pinato não quis dar entrevista, mas disse que continua na relatoria do processo contra o presidente da Câmara e que não será intimidado:

— Vou continuar na relatoria, fazendo o meu trabalho até o fim — disse.

O deputado Sandro Alex (PPS-PR) afirmou, depois da reunião, que Pinato relatou ter sido vítima de ameaças “dentro e fora do Congresso”.

— Ele tem sofrido ameaças nesses últimos dias, principalmente nessa última semana. Dentro e fora do Congresso, e estamos pedindo agora à Policia Federal que faça o acompanhamento e dê segurança a ele e à família dele. Ele nos relatou que tem vivido momentos muito difíceis, momentos tensos. Tem sofrido pressões todos os dias, mas o que tem preocupado ele é sua família, sua dignidade — disse Alex.

Pinato deu parecer favorável à admissibilidade do processo contra Cunha por quebra de decoro sob a alegação de que há indícios “fortes” para que o caso siga adiante.