O globo, n. 30055, 20/11/2015. Opinião, p. 19

A cultura pela paz

 
MARLOVA JOVCHELOVITCH NOLETO

Terror em Paris reforça necessidade dos valores defendidos pela Unesco.

AOrganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) acaba de completar 70 anos, com uma agenda mais atual do que nunca. Suas sete décadas coincidem com o momento de dor e perplexidade internacional diante dos ataques que, dia 13 de novembro, mataram mais de cem pessoas e deixaram centenas de feridos em Paris.

Criada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, a Unesco nasceu com a missão de ajudar a Humanidade a construir uma cultura de paz. Daí a aposta de que a educação, a ciência, a cultura, a comunicação e a informação estão entre os mais promissores caminhos para promover os valores da organização: a solidariedade, o diálogo, o entendimento entre os povos, a ética e os direitos humanos.

A violência praticada nas ruas de Paris e arredores na semana passada, assim como a sucessão de atentados que, ano após ano, explode prédios, aviões ou trens, só reforça a necessidade dos valores defendidos pela Unesco. Cada vez mais, os temas de que esta Organização se ocupa ganham relevância e urgência. E não é à toa.

Na recente cúpula durante a última Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, em Nova York, a comunidade internacional uniu-se em torno dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS. Aprovados por unanimidade, os ODS estabelecem metas para o planeta até 2030, em 17 áreas, como educação, saúde e meio ambiente.

Ainda na década de 1970, a preocupação ambiental levou a Unesco a lançar o programa O Homem e a Biosfera, que busca conciliar o uso e a conservação de recursos naturais. Daí nossa preocupação, ainda maior, com o recente rompimento da barragem em Mariana (MG). É indispensável que todos somem esforços para minimizar os danos e prevenir futuros desastres.

A Unesco também coordenou o esforço de seus 195 Estados-membros para a elaboração do recém-aprovado Marco de Ação Educação 2030, conjunto de diretrizes para fazer avançar o direito à aprendizagem. Não resta dúvida de que o acesso universal à escola, acompanhado da oferta de ensino de qualidade, é pressuposto básico para a criação de oportunidades e a redução das desigualdades.

Em 16 de novembro de 1945, representantes de 44 países reunidos em Londres adotaram a Constituição da Unesco, que sintetiza assim o seu espírito de atuação: “Uma vez que as guerras se iniciam nas mentes dos homens, é nas mentes dos homens que devem ser construídas as defesas da paz”.

No Brasil, a Unesco trabalha por meio de cooperação técnica com o setor público e privado. Participa de iniciativas como o Pronatec, o Bolsa Família, a prevenção à Aids, a parceria com a Central Única das Favelas (Cufa) e o Criança Esperança — este último, uma corrente de solidariedade que apoia projetos sociais, em parceria com a TV Globo e a sociedade brasileira.

Os disparos e as bombas em Paris nos deixam em estado de choque, mas não nos paralisam. Longe disso, só reforçam a certeza de que ainda temos muito a fazer e de que a Unesco continua mais atual que nunca.