O globo, n. 30054, 19/11/2015. País, p. 7

Novo delator diz ter emprestado R$ 12 milhões para amigo de Lula

 
CLEIDE CARVALHO E RENATO ONOFRE

Salim Schahin afirma que dívida nunca foi paga; defesa de Bumlai nega.

-SÃO PAULO- O empresário Salim Schahin, um dos sócios do Grupo Schahin, é o mais novo delator da Operação LavaJato. Aos investigadores, em acordo já homologado pela Justiça, Salim esclareceu as condições do empréstimo de R$ 12 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, e disse que a dívida nunca foi paga. A defesa de Bumlai nega, afirmando que pagou o que devia com sêmen de boi.

O empréstimo entre Bumlai e o grupo Schahin foi citado pela primeira vez pelo delator Eduardo Musa, ex-gerente da Petrobras. Também em depoimento aos procuradores, Musa afirmou ter ouvido do exdiretor da área Internacional da estatal Nestor Cerveró que o empréstimo do banco serviu para quitar uma dívida da campanha à reeleição do ex-presidente Lula, em 2006. Como forma de compensação, ainda segundo o delator, o Grupo Schahin fechou contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras para operar navio-sonda. FORÇA-TAREFA INVESTIGA PAGAMENTO Musa disse que teria confirmado a versão de Cerveró com Fernando Schahin, também sócio do grupo. O ex-gerente da Petrobras, no entanto, havia afirmado que o valor do empréstimo ao PT teria sido de R$ 60 milhões, e não R$ 12 milhões, como declarado agora por Salim aos investigadores. A força-tarefa quer saber agora se o empréstimo realmente foi usado para quitar dívidas da campanha petista.

Salim Schahin é pai de Carlos Eduardo Schahin, que presidiu o banco da família e foi condenado em julho do ano passado por manter recursos não declarados em uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas. A instituição acabou sendo vendida ao BMG em 2011. A gestão criou atritos entre os donos do banco, o próprio Salim e Milton Schahin, pai de Fernando Schahin. Fernando foi apontado por delatores como o intermediário do repasse a Bumlai.

A partir do empréstimo, Fernando Schahin passou a ser interlocutor constante nos negócios do grupo com a Petrobras. A informação consta do depoimento do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano. Em sua delação, Baiano disse que acertou com Bumlai o pagamento de US$ 5 milhões a Cerveró e a outros dois ex-gerentes da estatal para garantir que os contratos de operação do navio-sonda ficassem com o Grupo Schahin. Segundo ele, o pagamento à Diretoria Internacional teria sido tratado por Fernando Schahin.

O GLOBO apurou que outros integrantes do Grupo Schahin também negociam acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, entre eles ex-executivos do banco.

Em maio, executivos do Grupo Schahin foram convocados à CPI da Petrobras. Nenhum se pronunciou. A empresa está suspensa de fazer contratações com a Petrobras. Em julho, em entrevista ao GLOBO, o presidente do grupo Schahin, Milton Schahin, afirmou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), patrocinou esquema de perseguição às suas empresas. Cunha negou as acusações.

A defesa de Bumlai confirma que seu cliente pegou R$ 12 milhões emprestados com o Banco Schahin, em 2004. A defesa, porém, afirmou que o dinheiro seria para as empresas da família do empresário e não para o PT. O advogado informou ainda que Bumlai pagou a dívida com o banco. O PT, repetidamente, afirma que todas as doações para a legenda foram feitas legalmente e declaradas à Justiça eleitoral. BUMLAI VAI DEPOR NA CPI DO BNDES José Carlos Bumlai deve depor na próxima terça-feira na CPI do BNDES. Requerimento convocando-o foi aprovado na semana passada; parlamentares ligados ao governo, na tentativa de esvaziarem a sessão, estavam ausentes quando o presidente da comissão, Marcos Rotta (PMDB-AM), acatando uma questão de ordem do deputado Arnaldo Jordy (PPSPA), colocou em votação o requerimento que convocava Bumlai.