Movimento ganha força no DF

Caroline Pompeu, Mariana Laboissiêre

20/11/2015

Com maioria da população negra, o Distrito Federal aglutina uma série de movimentos engajados nas causas do segmento. Com diferentes níveis de organização, as siglas abordam a questão e lutam contra a discriminação. Especialistas ponderam, contudo, sobre a falta de articulação entre esses movimentos - uma das pautas da Marcha das Mulheres Negras, realizada nesta quarta-feira, e que terminou em tumulto, bombas e . Representantes dos movimentos negros, por sua vez, reclamam da ausência de diálogo com o governo local, que não dispõe, por exemplo, de um mapeamento sobre os movimentos organizados.

O coordenador da Questão Negra da Diretoria de Diversidade da Universidade de Brasília (UnB), Wanderson Flor do Nascimento, disse que o movimento negro vem se fortalecendo no DF nos últimos 10 anos. Vários coletivos com jovens, por exemplo, surgiram. "Mas o diálogo com o governo enfraqueceu. Ele não está no nível ideal, deveria ser maior, ainda está muito aquém das demandas do movimento negro", relatou.


Um desses coletivos foi criado por um grupo de 11 estudantes universitários da Universidade de Brasília (UnB) no início de agosto. Os estudantes desenvolveram o Coletivo Negras Vidas para construir a Semana da Consciência Negra e desenvolver uma série de programações na universidade com o apoio de outros coletivos negros da UnB. Eles organizaram, se reuniram e trouxeram para a UnB várias atividades como palestras, mesa de religiões afro-brasileiras e exposições.

Eles se juntaram pela causa, mas afirmam que não recebem apoio do governo nem da universidade. "Além da falta de diálogo com o governo, é clara a falta de assistência. Os negros se sentem sem representatividade por serem inúmeros e espalhados por grande parte da periferia. Normalmente, movimentos se localizam nas instituições acadêmicas, em colégios, em instituições superiores. Então, é necessária mais articulação de líderes que compõem esses grupos", explicou o estudante de pedagogia Jonathan Dutra, 21 anos.

Para a integrante da Comissão dos Jornalistas pela Igualdade Racial do DF (Cojira-DF) e da irmandade Pretas Candangas, Juliana Cézar Nunes, o movimento negro do DF é forte, com o rap, os terreiros, grupos universitários, movimentos de periferia e de mulheres. "Os movimentos nunca deixaram de existir, mas, talvez, estivessem um pouco desarticulados. Muitos militantes acabaram indo para postos institucionais e acadêmicos, o que causou um impacto. A Marcha das Mulheres Negras, porém, funcionou para que se articulassem novamente", opinou.

Elaine Meireles fez parte do Comitê Impulsor da Marcha das Mulheres Negras no DF. A marcha, que estava sendo organizada há dois anos, reuniu mais mulheres do que o esperado pela organização. Foram mais de 30 mil, de acordo com Elaine. Segundo ela, o impacto foi muito positivo, mas a cultura negra na capital, não é muito valorizada. "Só nos últimos meses, tivemos ataques a dois locais de religião afro brasileira. As atitudes racistas são vistas, diariamente, nos noticiários. As mulheres são atacadas em espaços públicos. Há um desconhecimento e preconceito no sentido de que ainda enxergam elementos da cultura negra como demoníacos", informou. Ainda em sua opinião, o diálogo com o governo distrital existe, mas é fraco. "O governo ouve o movimento negro apenas em alguns momentos como em conferências de mulheres, da juventude, mas é algo muito pontual", relatou.

A Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos informou que dialoga com todo esse universo, mas não o mapeia e acompanha, no sentido de monitorar.

Correio braziliense, n. 19170, 20/11/2015. Cidades, p. 21