Desastre deverá custar US$ 2 bi à Vale

 

Fernanda Guimarães

O Estado de São Paulo, n. 44585, 12/11/2015. Metrópole, p. A23


O rompimento das barragens da Samarco em Mariana, já considerado o maior desastre ambiental de Minas Gerais, deverá fazer a Vale realizar um provisionamento de ao menos US$ 2 bilhões para gastos que devem ocorrer ao longo dos próximos cinco anos. A estimativa é de especialistas ouvidos pelo Broadcast Político, serviço online do Grupo Estado. A Vale controla a Samarco ao lado da australiana BHP Billinton, em uma joint venture 50-50.
Um eventual fechamento permanente da Samarco significaria uma despesa adicional de US$ 3 bilhões para a Vale e BHP Billinton, de acordo com Credit Suisse, ou seja US$ 1,5 bilhão para cada. Isso porque a dívida líquida da companhia está hoje em US$ 2,93 bilhões.
O consultor Luciano Borges, da Ad Hoc Consultores Associados, calcula que nos próximos anos os custos advindos do acidente deverão girar entre US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões. Além disso, ele lembra o efeito na imagem da atividade da mineração no Brasil. Com isso, pela Vale ser brasileira, os impactos serão muito maiores do que para sua sócia, a BHP.
A Samarco tem seguro de riscos operacionais, mas o valor das indenizações, calculado por fontes de mercado em R$ 1 bilhão, ficará muito abaixo do total que deverá ser arcado pela companhia. Procurada, a Vale preferiu não comentar estimativas de mercado.
Responsabilidade. Na Justiça, a responsabilidade pelo rompimento das duas barragens da mineradora Samarco ainda pode recair sobre as gigantes Vale e BHP Billiton. Executivos da Samarco e integrantes do conselho de administração - composto por diretores das duas donas - podem ser punidos, caso as investigações apontem negligência.
As famílias atingidas pela tragédia também podem buscar indenizações na esfera cível, o que pode rebater nos cofres das duas companhias. A Vale afirma que é "mera acionista" da Samarco, sem qualquer ingerência operacional na gestão da companhia. Já a BHP Billiton diz que "um assunto como esse será relevante em qualquer investigação que ocorra após este trágico incidente". "Nestas circunstâncias, precisamos deixar essas investigações seguirem seu curso", disse em nota.
Embora a responsabilidade direta pelo acidente seja da Samarco, o professor Leonardo Ribeiro Pessoa, da área de Direito Tributário do Ibmec-RJ, explica que os administradores não estão isentos de acusações individualizadas por negligência.
Além disso, Vale e BHP podem ser condenadas a pagar bilhões em indenizações e reparações aos danos provocados à população, ao patrimônio e ao meio ambiente. Ontem, as duas empresas anunciaram a criação de um Fundo Emergencial para dar suporte à Samarco na reconstrução da cidade e ajuda às famílias atingidas. O montante a ser aportado por empresa e quando os valores começarão a ser desembolsados não foram informados.
Na sequência, o prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), foi a público dizer que o prejuízo estimado pelo rompimento das barragens da mineradora deverá chegar a "pelo menos R$ 100 milhões". "A secretaria de obras fez esse primeiro levantamento. Ele inclui 2 escolas, 15 pontes, pelo menos 50 piquetas ( passarelas para travessia de córregos) e 250 casas."