O Estado de São Paulo, n. 44585, 12/11/2015. Economia, p. B1
BERNARDO CARAM, RACHEL GAMARSKI
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, debateu na quarta-feira a situação da economia com o nome mais falado para substituí-lo no ministério, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Em entrevista, Meirelles disse não ter recebido "convite concreto" para substituir Levy. Mas o mercado financeiro reagiu à sua fala durante o evento como se ele estivesse prestes a assumir o cargo.
A Bolsa de São Paulo fechou em alta de 1,86%, aos 47.065,01 pontos, puxada pelos boatos da troca no ministério. Durante a manhã, o dólar chegou a mergulhar de R$ 3,7760 para a faixa de R$ 3,70, mas ao longo do dia o movimento perdeu força, com a avaliação de que a presidente Dilma Rousseff resiste a fazer a substituição, e a moeda americana fechou com resultado mais modesto, uma queda de 0,32%, a R$ 3,7669.
Meirelles é bem visto pelos investidores porque eles imaginam que o ex-presidente do BC terá mais força política para fazer o ajuste fiscal avançar.
Meirelles e Levy almoçaram juntos durante evento em Brasília
Encontro. Levy e Meirelles estiveram juntos no Encontro Nacional da Indústria (Enai), promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com a agenda lotada, Levy teve de atrasar sua participação no evento e sua fala acabou coincidindo com a palestra do ex-presidente do Banco Central.
Para não causar mal-estar, os responsáveis pelo evento consultaram Levy e Meirelles se o encontro os incomodaria. Levy e Meirelles responderam que não, almoçaram juntos, cumprimentaram-se publicamente e posaram para fotos.
As cotações no mercado financeiro oscilaram com o discurso de Meirelles. Em sua apresentação, que foi acompanhada por Levy da primeira fila da plateia, o ex-presidente do BC disse que é preciso reconhecer a gravidade do cenário econômico brasileiro. "São números que apontam para um cenário recessivo que não há dúvida que temos de reconhecer a gravidade", avaliou, antes de ponderar que o País está muito mais forte do que nas últimas décadas.
Ajuste completo. Meirelles disse que é preciso olhar o Brasil não só no curto prazo, mas de uma forma a permitir um crescimento sustentável. De acordo com o ex-presidente do BC, a situação deve ser enfrentada de forma vigorosa e com ajuste fiscal, mas é preciso visão de longo prazo - o que foi interpretado como sinal de sua disposição de levar adiante reformas na estrutura dos gastos públicos.
Meirelles disse que a desvalorização cambial, apesar de problemas causados, como por exemplo para empresas endividadas, tem um lado positivo para produção e exportação. "É evidente que o câmbio não resolve o problema de longo prazo, mas é importante que ele dê um fôlego, uma base para as empresas."
Pouco antes, Levy apresentou um discurso parecido, em sua apresentação aos empresários. Com o dólar num patamar mais elevado, o ministro afirmou que o câmbio no lugar certo faz bem a empresas e indústria. "Sabemos que hoje é fundamental evoluir para baixar o custo Brasil. Produtividade não pode ser só no câmbio."
Custo para Dilma. Levy disse ainda que o Brasil está enfrentando problemas de curto prazo e a presidente Dilma está pagando um preço pelas mudanças que decidiu fazer para reorganizar a economia. "O governo tem feito mudanças importantes e difíceis e são mudanças que a presidente assumiu e está pagando um preço difícil para que a gente possa estar vencendo o curto prazo."
Ele destacou ainda que as medidas que o governo tem tomado são indispensáveis para e estabilização fiscal e retomada da demanda. "O Brasil tem condição política de fazer as reformas necessárias e se colocar num novo patamar."