Delator cita 'doação' a Valdir Raupp

 

O Estado de São Paulo, n. 44585, 12/11/2015. Política, p. A9

 MATEUS COUTINHO, RICARDO BRANDT, JULIA AFFONSO E FAUSTO MACEDO

 

Em seu primeiro depoimento ao juiz Sérgio Moro após fechar o acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República, o lobista Fernando Antonio Soares, conhecido como Fernando Baiano afirmou que pediu “doação” para o atual presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa e que o repasse teria sido operacionalizado pelo doleiro Alberto Youssef em forma de doação oficial.

Apesar disso, ele negou ser “operador de propinas do PMDB”, como diz a força-tarefa da Lava. Ao ser questionado por Moro se havia alguma relação entre as propinas recebidas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa, para quem Baiano admitiu operar, e os repasses para partidos dentro do esquema na Petrobrás, o delator disse: “Eu acredito que isso seja independente, eu sempre operei recursos do Paulo para o Paulo”.

Em seguida, o delator fez uma ressalva quanto a um “parlamentar do PMDB”. “Só teve uma vez que eu pedi uma doação para o Paulo para um parlamentar para o PMDB, e que o Paulo disse que iria cuidar disso.”, relatou.

“Eu também fiquei sabendo, posteriormente, que essa doação tinha sido feita e eu fiquei sabendo depois que foi feita oficialmente e quem tinha operacionalizado isso tinha sido o Youssef”, seguiu o delator, que então foi indagado por Moro:

“Que parlamentar era esse?”

“Foi o senador Valdir Raupp”, respondeu.

A versão de Baiano vai ao encontro da delação do próprio Youssef feita no ano passado na qual ele afirmou ter operacionalizado o pagamento de R$ 500 mil para a campanha de Raupp ao Senado em 2010. O valor teria, segundo o doleiro, saído da cota do PP e seria decorrente de sobrepreços em contratos da Petrobrás.

Uma das linhas de acusação da força-tarefa da Lava Jato é de que o esquema de corrupção instaurado na Petrobrás abastecia não só os diretores da estatal indicados por partidos, como também as próprias siglas e, em anos eleitorais, os políticos que teriam lavado o dinheiro da propina por meio de doações oficiais.

O juiz Sérgio Moro deu ampla publicidade aos processos da Lava, inclusive com audiências filmadas. A defesa do lobista, porém,  pediu a Moro que não deixasse mostrar o rosto do delator, alegando proteção à integridade de Baiano. O juiz consentiu e a câmera ficou fixa em um ponto do teto da sala de audiências.

Valdir Raupp já é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Um deles investiga se houve formação de quadrilha para fraudar a Petrobrás. O outro apura se o senador recebeu dinheiro desviado por empresas com contratos na estatal e lavou os valores.

A reportagem tentou contato com o gabinete do senador na noite desta quarta-feira, 11, mas ninguém atendeu.

Por meio de sua assessoria, segundo divulgou o Jornal Nacional da Rede Globo, o senador informou que os valores foram doados ao diretório do PMDB, não diretamente, e que todas as doações foram declaradas à Justiça eleitoral.