Valor econômico, v. 16, n. 3943, 16/02/2016. Política, p. A8

Rui Falcão recua e diz que reunião do PT não tratou de defesa de Lula

Por Cristiane Agostine | De São Paulo

 
 
Jorge Araújo/Folhapress
Lula no conselho político da presidência do PT: ex-presidente teria evitado falar sobre as denúncias, segundo relatos de petistas que participaram do encontro

 

Acuado diante de denúncias envolvendo seu principal expoente, o comando do PT evitou falar ontem da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação às suspeitas relacionadas ao petista. O presidente do partido, Rui Falcão, reuniu-se com Lula, intelectuais, sindicalistas, governadores, prefeitos e dirigentes da sigla em São Paulo para discutir a "escalada de ataques" ao ex-presidente, mas depois do encontro recuou e disse que a legenda não debateu a estratégia de defesa do ex-presidente.

Segundo relatos de petistas, Lula evitou novamente falar sobre as denúncias, assim como fez na sexta-feira, em outro encontro com lideranças do PT. Dirigentes do partido aguardam um pronunciamento do ex-presidente sobre as suspeitas e reclamaram da demora de Lula em se explicar.

O conselho político da presidência do PT reuniu-se ontem para tratar das "ameaças" ao Estado Democrático de Direito, a "ofensiva reacionária para criminalizar" o partido e a "escalada de ataques ao companheiro Lula", segundo texto assinado por Falcão e publicado no site do PT antes do encontro. "Naturalmente será uma ocasião para expressarmos solidariedade e apoio ao ex-presidente Lula", afirmou o presidente do partido.

Depois do encontro, no entanto, os petistas negaram-se a falar sobre as suspeitas contra Lula, como as investigações sobre um apartamento tríplex em Guarujá e um sítio frequentado pelo ex-presidente em Atibaia, alvo de apurações da Operação Lava-Jato e do Ministério Público de São Paulo. "Queria desmentir cabalmente que [a reunião] era pra discutir a linha de defesa do [ex] presidente Lula. Isso não ocorreu, não estava na pauta e não foi mencionado", afirmou Falcão à imprensa, afirmando em seguida que a "escalada de ataques" não foi tratada na reunião.

Sem entrar em detalhes, Falcão disse que as denúncias contra Lula são "infundadas" e citou o caso do sítio em Atibaia, que foi reformado pela OAS e Odebrecht. "O sítio tem escritura, nome de proprietário e o proprietário faculta a visita a esse sítio para quem ele quiser, principalmente ao presidente Lula, com quem um dos proprietários foi praticamente criado, desde a sua infância", disse. "As pessoas têm que provar que são inocentes, queixou-se.

Entre os poucos que comentaram abertamente as denúncias, o governador do Piauí, Wellington Dias disse que "é rasteiro" o ataque à família do ex-presidente.

Amanhã, Lula e sua mulher, Marisa Letícia, deverão prestar depoimento em São Paulo, na condição de investigados, para dar esclarecimentos sobre um apartamento tríplex em Guarujá. O promotor Cássio Conserino diz haver indícios de suposta lavagem de dinheiro, por meio de repasse disfarçado de propinas a agentes envolvidos em esquema criminoso na Petrobras. A defesa do ex-presidente ainda estuda se Lula irá ou não.

Em meio às investigações, o ex-presidente tenta se manter influente no governo Dilma e ontem discutiu com o conselho político petista mudanças na política econômica. O PT apresentará à presidente o "Plano Nacional de Emergência" para a retomada do crescimento econômico, com propostas como a redução da taxa de juros, o aumento dos investimentos públicos em infraestrutura e o reforço do crédito. As propostas serão debatidas na reunião do Diretório Nacional no fim do mês, no Rio de Janeiro. "O partido quer colaborar mais", disse Wellington Dias.

Na reunião, petistas criticaram a "agenda neoliberal" do governo Dilma e o "ambiente de paralisia de obras". O temor do PT, segundo participantes, é que o aumento do desemprego e da inflação atinja em cheio o legado deixado pelo ex-presidente e os ganhos sociais.

Depois do encontro, o presidente nacional do PT não quis detalhar o plano. O dirigente desconversou também sobre a reforma da previdência. O partido rejeita a proposta do governo.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, criticou a proposta e disse que o país não precisa de uma reforma da previdência como propõe o governo. "Ajustes pontuais vão acontecer, mas não tem motivo para criar uma onda de reforma da previdência baseado em um ano de crise", afirmou. "É um movimento errático do governo ter dado tanta ênfase à reforma da previdência neste momento. Não se faz uma medida estrutural baseada num ano ruim. Não vai viver a vida inteira em crise".