O globo, n. 30051, 16/11/2015. País, p. 3

A propina de Pasadena

 
CLEIDE CARVALHO

Novo colaborador promete documentos que mapeiam suposto suborno em refinaria.

- CURITIBA- Uma nova frente de investigação será aberta na Lava- Jato com a promessa de Diego Candolo, apontado como responsável pelo pagamento de propina no exterior pela compra da refinaria de Pasadena, de entregar documentos sobre o esquema de corrupção às autoridades do Brasil e da Suíça. Ele já adiantou que, do total distribuído em suborno pela refinaria norteamericana, US$ 6 milhões foram direcionados para diretores da área internacional da Petrobras, comandada por indicados do PMDB.

O nome de Candolo já havia surgido nas investigações sobre uma Range Rover comprada por Nestor Cerveró, ex- diretor Internacional da estatal, em 2012. As informações prestadas pelo novo colaborador, segundo as investigações, são essenciais para desvendar o repasse de recursos a políticos do PMDB. Os investigadores estão convencidos de que Fernando Soares, o Fernando Baiano, não foi o único operador do partido.

Candolo, de cidadania suíça e panamenha, operava contas na Suíça e em Lichtenstein. Ele aceitou colaborar com as investigações do Ministério Público da Confederação Suíça e da forçatarefa da Operação Lava- Jato. Os investigadores chegaram ao valor de propina para a diretoria internacional não só em razão desta colaboração, mas também com a delação de Baiano, que, juntamente com Candolo, intermediava o esquema a favor do PMDB.

O negócio de Pasadena, fechado pela Petrobras em 2006, resultou num prejuízo de US$ 790 milhões à estatal, segundo valores atualizados. No fim do ano passado, relatório da Controladoria Geral da União ( CGU) já indicava um rombo de US$ 659,4 milhões.

Os documentos prometidos por Candolo mapeiam as transferências de valores feitas no exterior e ajudam a comprovar as informações prestadas por Baiano, que já havia afirmado que a refinaria do Texas rendeu, no total, US$ 15 milhões em propina. Parte desse dinheiro também teria abastecido caixas de políticos do PT, que nega as acusações.

O então diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, já havia confessado ter recebido US$ 1,5 milhão apenas para “não atrapalhar o negócio”. A quantia, segundo ele, foi depositada no Vilartes Bank justamente por Candolo.

Desde a semana passada, a Polícia Federal trabalha com a hipótese de que Baiano não é o único operador do PMDB, como se pensava no início das investigações, principalmente após a acareação realizada com Costa, marcada por divergências. DELAÇÃO PODE DESVENDAR PAGAMENTOS Na avaliação dos investigadores, essas divergências seriam resultado de desconhecimento, por parte de Baiano, de algumas negociações, uma vez que ele não teria feito a totalidade dos repasses e nem faria parte da estrutura da Petrobras. Baiano já foi condenado na primeira instância da Justiça Federal em Curitiba a 16 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, sob acusação de receber US$ 40 milhões de propina nos anos de 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios- sonda para a perfuração de águas profundas na África e no México.

Pelas contas de Baiano e Candolo passaram recursos destinados também a Cerveró. Especulase que o ex- diretor negociou delatar o esquema, mas investigadores consideraram que ele não tinha elementos suficientes. Também estão sendo investigados os repasses a Jorge Zelada, que sucedeu Cerveró e já teve 10 milhões de euros bloqueados no Principado de Mônaco, de acordo com o MPF.

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PF começa a fechar acordos de delação premiada

 

Doleira Nelma Kodama, parceira de Alberto Youssef, foi a primeira a aceitar.

Novo colaborador da Operação Lava- Jato promete entregar documentos que mostram que ex- diretores da Petrobras indicados pelo PMDB receberam propina por Pasadena. - CURITIBA- A Polícia Federal vai começar a negociar e fechar diretamente acordos de delação premiada na Operação Lava- Jato. Até agora, as delações eram feitas apenas na esfera do Ministério Público Federal. A doleira Nelma Kodama, que atuava em parceria com Alberto Youssef, foi a primeira a fechar acordo com a PF. A alteração deverá servir para agilizar as investigações, uma vez que o interesse pelos acordos é grande, e muitos possíveis colaboradores podem ajudar a elucidar pontos específicos de apurações, feitas pela polícia, ainda em andamento. Tanto na PF como no MPF, a homologação é feita pela Justiça.

A colaboração com a PF segue os moldes das que são acertadas com os procuradores da República, ou seja, pode resultar também em redução de penas, por exemplo. Nos depoimentos à Polícia Federal, são abordadas provas específicas.

— Para nós, essas novas delações valem mais do que os depoimentos iniciais — afirma um dos investigadores, referindo- se aos depoimentos tomados depois da homologação do acerto.

As mais de 30 delações firmadas até agora foram conduzidas apenas pela força- tarefa do MPF. Com a abertura do leque, a PF dará a largada em uma série de negociações com outros envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. Os depoimentos poderão ser acompanhados por procuradores. A intenção é atrair delatores ligados a empresas que possam dar mais detalhes sobre os mecanismos usados para pagamento de propina. INVESTIGAÇÃO ENTRA EM NOVA FASE A investigação das empreiteiras entrou também em nova fase. A PF iniciou a perícia da contabilidade das empresas, mesmo daquelas cujos executivos já foram julgados em ações da LavaJato, como a OAS e a Mendes Júnior. A perícia foi detalhada e passou a ser mais completa depois das informações apresentadas pela Camargo Corrêa, que fechou acordo de leniência.

O objetivo é detalhar quem recebeu valores significativos das empreiteiras e identificar outros repassadores de recursos que não são os operadores já identificados pelo ex- gerente da Petrobras Pedro Barusco, que fechou acordo de delação.

Boa parte da propina a políticos foi repassada por empresas de consultoria, assessorias ou escritórios de advocacia. A Camargo Corrêa identificou 13 fornecedores que ela própria usou para repassar dinheiro, entre eles dois escritórios de advocacia. A Odebrecht foi a primeira das empreiteiras do cartel a ter sua contabilidade dissecada depois do acordo de leniência feito pela Camargo.

Do pente- fino na contabilidade poderá ainda, segundo os investigadores, surgir mais nomes de políticos beneficiados com repasses de recursos, inclusive, fora do âmbito da Petrobras. A investigação também revela esquemas, por exemplo, na hidrelétrica de Belo Monte e na Eletronuclear, ambas alvos de fraude envolvendo pessoas já investigadas no âmbito da Lava- Jato.

A devassa contábil deverá ajudar a PF em duas investigações mais complexas, do grupo Andrade Gutierrez e da construtora Queiroz Galvão. A Queiroz segue apenas como investigada na Lava- Jato, mas, segundo relatório da PF, foi a segunda empreiteira mais beneficiada com contratos da Petrobras entre as 27 empresas do cartel.

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Ato em Brasília pede impeachment de Dilma e fim da corrupção

 

Polícia usa gás de pimenta para repelir invasão do espelho d’água do Congresso.

- BRASÍLIA- Cerca de duas mil pessoas, segundo estimativas da Polícia Militar ( PM), protestaram ontem, data em que é celebrada a Proclamação da República, na Esplanada dos Ministérios, contra a corrupção e para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Parte dos manifestantes também defendeu a intervenção militar para tirar a petista do poder.

Os descontentes, acampados no gramado do Congresso Nacional há quase um mês, exibiam cartazes contra Dilma, o PT e a corrupção. Ao longo do protesto, os policiais fizeram barreiras para revistar mochilas e bolsas dos presentes.

Segundo informações da PM, um manifestante foi preso por injúria racial a um policial que fazia um cordão de segurança no entorno do Congresso. O homem o agrediu quando tentava furar o bloqueio para invadir o espelho d'água do local. O manifestante foi encaminhado para a 5 ª Delegacia de Polícia ( DP) do Distrito Federal. Uma outra pessoa foi presa no início da tarde de ontem por porte de entorpecentes e também foi levada para a 5 ª DP.

O ato seguia pacífico até que um grupo furou o bloqueio policial e invadiu o espelho d'água do Congresso. Nesse momento, os policiais usaram spray de pimenta para conter os manifestantes, que queriam invadir as Casas legislativas. Eles chegaram a ser detidos, mas foram logo liberados.

O protesto ocorre dois dias depois de cerca de quatro mil pessoas — a maioria ligada à União Brasileira dos Estudantes Secundaristas ( Ubes) — terem percorrido a Esplanada contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ).