O globo, n. 30051, 16/11/2015. País, p. 4

Em congresso, PMDB deve elevar tom das críticas ao governo

 
MARIA LIMA

Ala do partido pode apresentar pedido para romper aliança com PT, mas isso não será votado no encontro.

“Não se trata de Michel ( Temer) se colocar como ‘ esse cara sou eu’ ”
Moreira Franco Presidente do Instituto Ulysses Guimarães

Ala descontente com o Planalto vai pedir o fim da aliança com o PT em congresso amanhã. - BRASÍLIA- Com o mote “O PMDB tem voz e não tem dono”, e depois de divulgar um documento com diretrizes econômicas para tirar o país da crise, o congresso nacional do PMDB, que será realizado em Brasília amanhã, pode se tornar um palco para o vice- presidente Michel Temer e para as alas da legenda que querem romper a aliança com a presidente Dilma Rousseff.

— O partido é player para a sucessão presidencial, agora ou numa futura eleição — diz um aliado do vice.

O congresso peemedebista vai dar visibilidade ao documento intitulado “Uma ponte para o futuro”, elaborado por economistas sob a coordenação do ex- ministro Moreira Franco, presidente do Instituto Ulysses Guimarães. Quando foi divulgado, há algumas semanas, o programa econômico gerou controvérsia com parte do governo, já que propõe uma ruptura do atual modelo, apontado pelo PMDB como a origem da grave crise que o país atravessa na economia.

A ala descontente do PMDB quer também aproveitar o congresso para dinamitar a relação com o governo e o PT. Esses peemedebistas devem apresentar uma moção de rompimento da aliança, mas o efeito disso será apenas midiático, porque qualquer deliberação partidária sobre o posicionamento do partido só poderá ocorrer na convenção nacional, marcada para março do ano que vem. Porém, uma outra ala do partido, encabeçada pelos ministros que estão satisfeitos com a nova fatia de poder na Esplanada, tenta botar panos quentes e evitar que o movimento antigoverno ganhe corpo.

Nesse cenário de divisão, o PMDB terá ainda que administrar outra saia justa: a participação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ). Ele já disse várias vezes que prefere que o partido rompa a aliança com o governo. Agora, pressionado pelas investigações da Operação Lava- Jato, também pode usar o evento para buscar apoio contra sua cassação no Conselho de Ética.

Temer, que é presidente da legenda, deve adotar o tom de “reunificar a sociedade que está muito dividida”, segundo Moreira Franco — que trabalha nos bastidores para viabilizar a posse do vice em caso de impedimento de Dilma. Outro integrante dessa ala, o senador Romero Jucá ( PMDB- RR) comandará uma sala de discussão sobre o programa econômico do partido e, no encerramento, vai apresentar o documento final com as mudanças propostas.

No discurso, Temer vai detalhar a crise e defender as medidas do programa do PMDB para resolver, por exemplo, a crise que tem devolvido 40 milhões de brasileiros que ascenderam à classe C a condições até piores do que enfrentavam antes. Vai ressaltar que o modelo de retomada do crescimento econômico e da capacidade de investimento do PMDB não tem nada a ver com a atual matriz econômica do governo Dilma.

— Estão querendo nos colocar num falso dilema. Cunha e Dilma ficam se ameaçando ao redor do impeachment, os números pioram a cada dia, e, enquanto isso, o país não discute alternativas para o que aí está. Neste quadro, temos que discutir saídas para a crise. Não se trata de Michel ( Temer) se colocar como “esse cara sou eu” — diz Moreira Franco.

Outro dirigente do PMDB, mais ligado à ala governista, diz que não há movimento para esvaziar o congresso da sigla: pelo contrário, o trabalho seria para trazer o máximo de gente possível para mostrar a vida partidária nos estados e a unidade partidária para os desafios do futuro.

— É o momento para falar. É bom ter essas sessões de exorcismo, ver o que vai na alma do partido. Michel e Moreira lançaram o programa para debate na sociedade. Temos a espinha dorsal de um programa para assumir hoje ou depois de uma nova eleição. Se tiver que assumir amanhã, esse é o nosso programa — diz esse integrante da Executiva Nacional.

O ex- ministro Geddel Vieira Lima ( PMDB- BA), que defende o rompimento com o governo, afirmou ao GLOBO que há uma tentativa da ala mais governista de esvaziar o congresso da legenda.

— Como houve uma grande repercussão no lançamento do programa, os ministros não querem uma manifestação real contra o governo no congresso — avalia Geddel.

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Cunha adia apresentação de defesa ao Conselho de Ética, que pode cassá- lo

 
CHICO DE GOIS

Advogados só devem apresentar argumentos do parlamentar amanhã ou quarta- feira.

- BRASÍLIA- O presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDBRJ), adiou a apresentação de sua defesa no Conselho de Ética da Casa. Na semana passada, o peemedebista disse que podia entregar a contestação no processo de quebra de decoro parlamentar hoje, mas agora isso deverá acontecer amanhã ou nesta quarta- feira. Não foi informado o motivo do adiamento.

Na terça- feira passada, o próprio Eduardo Cunha anunciou que seu advogado apresentaria sua defesa preliminar hoje ao colegiado.

— Meu advogado vai apresentar uma defesa preliminar nesta segunda- feira. A partir daí, vamos aguardar o parecer preliminar para, então, apresentar a defesa — dissera o presidente da Câmara.

O advogado Marcelo Nobre, que defende Eduardo Cunha no Conselho de Ética, apenas confirmou que a defesa ocorrerá amanhã ou na quarta- feira. No entanto, Nobre não informou o motivo do adiamento.

O processo contra o presidente da Câmara foi instaurado dia 3 deste mês. O relator escolhido, Fausto Pinato ( PRB- SP), tem dez dias úteis para apresentar um parecer prévio sobre a admissibilidade ou não da denúncia. Esse prazo ter mina nesta quinta- feira.

A partir daí, Pinato concede outros dez dias úteis para Cunha contestar os argumentos. Contudo, o peemedebista pretende apresentar seus argumentos ainda na fase preliminar, na tentativa de enter rar o processo de vez. A representação do PSOL pede a cassação dele pelo fato de Cunha ter mentido em depoimento na CPI da Petrobras, ao negar que tivesse contas no exterior.

Eduardo Cunha tem justificado o dinheiro que mantém na Suíça alegando que é fruto de seu trabalho na década de 80. Em entrevista ao GLOBO, ele afirmou que, naquela época, vendeu carne processada e outros produtos para a África, especialmente para o Zaire ( atual Repúblico Democrática do Congo) e o Congo. Ele também sustentou que os recursos nas contas não lhe pertencem, pois estão em trusts, criados para administrar bens.

As explicações, no entanto, não convenceram os parlamentares. Na semana passada, o PSDB, temendo um desgaste ainda maior por sua proximidade com Cunha, declarou que não mais o apoiaria.