Choque com PM derruba secretário de Segurança

Helena Mader 

06/11/2015

O embate com a cúpula da Polícia Militar levou o secretário de Segurança Pública e Paz Social, Arthur Trindade, a deixar o GDF. A permanência do sociólogo no primeiro escalão ficou insustentável depois que o governador Rodrigo Rollemberg manteve o comandante-geral da PM, Florisvaldo César, no cargo. O coronel entrou em conflito com o titular da pasta por causa da operação policial para conter o protesto de professores, na semana passada. A decisão de acionar o Batalhão de Operações Especiais foi tomada sem consulta prévia ao secretário de Segurança e ao governador. Na carta de demissão entregue ontem a Rollemberg, o sociólogo criticou duramente o comando da Polícia Militar. "A ação da PM contra os professores foi equivocada. Não posso concordar com o que aconteceu", explicou. 

A saída do secretário enfraquece a principal área do governo Rollemberg. O programa Viva Brasília, implantado nesta gestão, ampliou a participação da sociedade e trouxe bons resultados, como a redução de 14% no total de homicídios. Mas Arthur alega que enfrentou resistência da corporação, o que dificultou o trabalho. "Lutamos para construir uma política de segurança e fortalecer a secretaria como órgão central de planejamento e governança. Mas os acontecimentos recentes tornaram insustentável a minha permanência", escreveu. Segundo ele, existe resistência dentro de setores da PM, que entendem que a polícia não deve se submeter às diretrizes da pasta. "Eles não querem uma secretaria forte e capaz de planejar uma política de segurança pública." 
O secretário atribuiu a responsabilidade pelos problemas registrados na operação contra os professores ao comando da Polícia Militar. "Os erros na ação da semana passada não podem, de forma alguma, ser atribuídos aos policiais do Bope. Se os protocolos estão equivocados, cabe ao comando corrigi-los. A ação revelou as graves falhas na cadeia de comando e na estrutura de governança da segurança pública", denunciou. 

Sucessor 

A especialista Marcelle Figueira, coordenadora do curso de segurança e ordem pública da Universidade Católica de Brasília, critica a saída de Arthur e afirma que o futuro secretário de Segurança assumirá um cargo esvaziado. "A meu ver, o governador cometeu um erro político. Brasília nunca havia tido um plano distrital de segurança pública articulado e com participação da sociedade. Com a saída do secretário, esse projeto fica sob forte risco", avaliou. 

"A gestão do professor Arthur se mostrou a mais exitosa no DF dos últimos tempos, e a política de segurança pública era o que o governador tinha de mais positivo para apresentar", acrescentou Marcelle. Para ela, o futuro secretário terá missão difícil. "Independentemente de quem assuma, essa pessoa não terá capacidade de fazer articulação política com as demais instituições, porque o governador colocou a Secretaria de Segurança Pública em relação de desigualdade com as polícias", avaliou. 

Entidades de defesa dos direitos humanos divulgaram nota na qual lamentam a saída. O Instituto Sou da Paz e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirmaram que a exoneração "representa uma oportunidade perdida pelo DF em desenvolver políticas públicas de segurança sob outro prisma". Para as duas entidades, a gestão "acertadamente priorizou a transparência e a divulgação dos dados criminais, a aposta na cooperação intensa com a sociedade e a devolução da sensação de segurança à população". 

Representantes das corporações têm grande expectativa com relação ao novo nome. "Esperamos que seja alguém competente, com grande conhecimento e experiência. É preciso ter habilidade e sensibilidade para comandar a área", comentou o presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da PM, coronel Mauro Manoel Brambilla. 

O presidente do Sindicato dos Policiais Civis, Rodrigo Franco, acredita que a saída de Arthur Trindade deixa cicatrizes. "Isso gerou uma instabilidade na segurança pública, o que pode causar impactos à população. O novo secretário tem de ser alguém que pense de forma republicana e sempre em prol da sociedade, que saiba ouvir os anseios das instituições e das categorias", disse. 

Em nota divulgada ontem à noite, o governador Rollemberg lamentou a saída do secretário: "Agradeço ao Arthur pelo valoroso trabalho à frente da secretaria. Com a integração das forças de segurança, conseguimos diminuir os índices de violência na nossa cidade. Por isso, continuaremos investindo no programa Viva Brasília a fim de avançar cada vez mais contra a criminalidade no DF". A secretária adjunta de Segurança, Isabel Seixas, responderá interinamente pela pasta. 

Correio braziliense, n. 19156, 06/11/2015. Cidades, p. 21