"Ecocídio" afeta mais de mil hectares

Daniel Camargos 

21/11/2015

Pelo menos 1 mil hectares de áreas de preservação permanente (APPs) nas margens dos rios por onde passou a lama de rejeitos oriunda do rompimento da barragem do Fundão, da Samarco, foram afetados. A análise, ainda preliminar, foi feita por técnicos do Ibama que acompanham os estragos da catástrofe provocada pelo rompimento da barragem da mineradora controlada pela Vale e pela BHP Billiton, no começo do mês. Se considerado todo o estrago, sem levar em conta apenas as APP's, o total é de 1,6 mil hectares (16 km²).

De acordo com a coordenadora geral de emergência ambiental do Ibama, Fernanda Pirillo, os funcionários do órgão federal seguem trabalhando no salvamento de peixes, especialmente das espécies nativas da bacia. Para Pirillo, a recuperação é possível, mas ela não estima um prazo. Já a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, estimou que o processo de recuperação deve levar cerca de 10 anos.

"Se não foi má-fé, foi uma estimativa desonesta, ou um uso ilusório de um prazo", avalia o doutor em botânica Reinaldo Duque Brasil, sobre a estimativa da ministra. Reinaldo, que é professor do campus de Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e especialista na Bacia do Rio Doce, classifica a catástrofe como um "ecocídio".

 Uma das principais unidades de conservação afetadas pela lama foi o Parque Estadual do Rio Doce. "Um refúgio de várias espécies de peixes e com trecho de mata atlântica preservada. É a unidade de conservação mais importante da bacia", destaca Reinaldo. O professor lembra que grande parte das imagens de tartarugas, aves e peixes mortos foram feitas na região da Ponte Queimada, dentro da área do parque.

O Parque Estadual de Sete Salões, entre as cidades de Resplendor e Conselheiro Pena, também foi afetado. Reinaldo destaca que o parque é uma área montanhosa, com várias cavernas e pinturas rupestres, além de ser considerado área sagrada para os indígenas da etnia Krenak.

Além desses dois, outra unidade de preservação afetada foi o parque municipal de Governador Valadares, que fica no sopé do Pico do Ibituruna, além de uma reserva ambiental de propriedade da Vale, em Linhares, e as áreas recuperadas pelo Instituto Terra, em Aimorés, projeto comandado pelo fotógrafo Sebastião Salgado. "É um dano irreparável, incalculável. A flora vai ser muito afetada e a fauna aquática nem se fala. Várias espécies vão ser exterminadas", afirma Reinaldo.

Além de avaliar os danos ambientais ao longo do Rio Doce, as equipes do Ibama tentam reduzir os impactos em Regência (ES). Já foram transferidos 33 ninhos de tartarugas marinhas para áreas que não deverão ser atingidas diretamente pela onda de rejeitos de mineração.Também foram colocadas barreiras contenção para atenuar o possível avanço da lama para áreas de desova.

Correio braziliense, n. 19171, 21/11/2015. Brasil, p. 5