Título: Não há país imune
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2011, Economia, p. 13

Washington ¿ A diretora-gerente do fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, advertiu que os países emergentes "não escaparão ilesos" se os países avançados entrarem em recessão. "Ninguém escapará. O reequilíbrio é de interesse mundial, mas também nacional", advertiu a executiva, em discurso pronunciado ontem no centro de análises Woodrow Wilson, na capital norte-americana.

Lagarde disse que os países mais ricos são vítimas de um "círculo vicioso" que está se acelerando e do qual não vão escapar sem decisões mais ousadas e firmes. "O magro crescimento e os balanços frágeis de governos, instituições financeiras e lares interagem negativamente, e isso gera uma crise de confiança e reprime a demanda, o investimento e a criação de empregos", observou. "Se não forem tomadas medidas coletivas e enérgicas, existe um risco real de que as principais economias retrocedam ao invés de avançar."

Boa parte dessas dificuldades, segundo a dirigente, foi exacerbada pela indecisão dos governantes ou pelas dificuldades dos sistemas políticos. A crise da dívida na Zona do Euro se intensificou, os Estados Unidos continuam mergulhados num debate interno sobre a direção a seguir para reativar o emprego e os países emergentes, que impulsionam a economia mundial, sofrem um superaquecimento, resumiu Lagarde.

Em Bruxelas, porém, a Comissão Europeia divulgou uma relatório em tom mais otimista, procurando afastar os temores de que o continente possa mergulhar em uma recessão nos próximos meses, apesar da crise da dívida e da degradação do ambiente econômico. Segundo a comissão, apesar da desaceleração nos últimos dois trimestre deste ano, os 17 países da Zona do Euro ainda vão apresentar um crescimento de 1,6% em 2011.

De acordo com estimativas da agência de estatísticas Eurostat, o Produto Interno Bruto (PIB) da região deve avançar 0,2% no terceiro trimestre e 0,1% nos últimos três meses. O órgão cortou as projeções anteriores em 0,2 e 0,3 ponto percentual, respectivamente. A comissão atribuiu essa desaceleração ao enfraquecimento da demanda e do comércio mundial e a indícios de que a recuperação perde fôlego nos Estados Unidos. No conjunto dos 27 países da União Europeia, o crescimento será de 1,7% neste ano, com um corte de um décimo em relação à estimativa feita em maio passado.

Fragilidades "Não prevemos uma recessão", disse o comissário europeu de Assuntos Econômicos, o finlandês Olli Rehn, apesar de admitir que as condições econômicas estão mais frágeis. "As perspectivas da economia europeia pioraram. A recuperação depois de uma crise financeira é lenta e repleta de obstáculos", argumentou.

De acordo com a comissão, a Alemanha é o único país europeu onde as projeções econômicas melhoraram, já que seu PIB terá expansão de 2,9% este ano, ante previsão anterior de 2,6%. A França crescerá 1,6% (1,8% previsto em maio). A Itália, sob forte pressão dos mercados por causa de sua dívida, que alcança 120% de seu PIB, terá alta 0,7% em vez de 1%. A estimativa para o crescimento da Espanha permaneceu em 0,8%. Entre os países da União Europeia que não pertencem à Zona do Euro, a Grã-Bretanha teve sua previsão reduzida de 1,7% para 1,1%.