Título: Demissão não significa impunidade
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Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2011, Opinião, p. 14

A queda do ministro do Turismo, Pedro Novais, foi a crônica da demissão anunciada. Ele assumiu a pasta manchado pela denúncia de ter pago com dinheiro público festa em motel. Esquema de corrupção desbaratado pela Polícia Federal na Operação Voucher pôs na berlinda o secretário-geral de Novais. Frederico Silva da Costa figurou na relação dos 33 presos acusados de desviar recursos de emendas parlamentares para ONG de fachada no Amapá.

Esperava-se que o escândalo fosse causa suficiente para a exoneração do titular. Não foi. Em defesa no Congresso, o ministro afirmou que a quadrilha atuava desde o governo anterior. Não era, pois, responsabilidade sua. A desculpa, claro, não convenceu. O dono da casa é, sim, responsável não só pelo que acontece no próprio gabinete mas também pelo que ocorre nos demais recintos da instituição. Esse, aliás, é o entendimento da presidente da República, que proibiu os auxiliares de apelar para o surrado "eu não sabia".

O rosário de denúncias não cessou. Apurações do Correio Braziliense trouxeram a público, entre outros desvios, contratos firmados sem concorrência pública com entidades suspeitas de irregularidades. Elas levariam avante o programa de qualificação de profissionais do turismo para a Copa do Mundo de 1914. Reportagens da Folha de S.Paulo jogaram a pá de cal. Recursos da Câmara dos Deputados pagam empregados particulares da família ¿ governanta e motorista.

Pedro Novais engrossa a fila dos ministros de Dilma Rousseff que tombaram em decorrência de denúncias de corrupção. Antonio Palocci, do PT, deixou a Casa Civil por não poder explicar a mágica que lhe permitiu multiplicar o patrimônio 20 vezes. Alfredo Nascimento, do PR, caiu do Ministério dos Transportes em consequência de evidências de superfaturamento em obras de infraestrutura ligadas à pasta. Wagner Rossi, do PMDB, foi defenestrado da Agricultura porque, além da malversação de dinheiro público, usufruía de favores oferecidos por empresa beneficiada pelo ministério.

A exoneração, bem-vinda sem dúvida, precisa ser pedagógica. De um lado, deve impor o critério da ficha limpa, condição indispensável para sentar-se na cadeira de qualquer ministério. De outro, é igualmente indispensável haver a garantia de que a saída do primeiro escalão do governo não constitui passaporte para a impunidade. As investigações têm de prosseguir. Os responsáveis não podem escapar.