Título: No país, 6,3 milhões deixaram a pobreza
Autor: Sarkkis, Ariadne
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2011, Cidades, p. 21

A complementação da renda dos que vivem com menos de um salário mínimo reduziu a faixa de miséria

A política de reajuste do salário mínimo que garante acréscimos reais de renda (acima da inflação), mantida pelo governo Lula, bem como o efeito gerado pelo programa Bolsa Família foram fatores determinantes para a retirada de 18,3 milhões de brasileiros da linhas de extrema pobreza e de pobreza no período de 2004 a 2009. A constatação é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que divulgou ontem o levantamento Mudanças Recentes na Pobreza Brasileira. Segundo o estudo, a parcela da população que vivia com renda menor que um salário mínimo caiu de 71% para 58%.

Apesar de a pesquisa trazer a realidade observada até um ano antes da eleição de Dilma Rousseff, a tendência é que esse cenário de ascensão econômica das classes de renda mais baixa da população se amplie exponencialmente. Além de outras correções expressivas terem sido feitas nos contracheques dos trabalhadores desde então, a previsão é que o salário mínimo suba 50% até o fim do atual mandato, superando os 43,4% de aumento concedido na segunda etapa da gestão Lula. O valor representará mais do que o dobro da inflação do período e passará, dessa forma, dos R$ 545 para R$ 817,97, conforme reportagem do Correio de ontem.

Segundo o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Jorge Abrahão de Castro, o crescimento econômico e a consequente geração recorde de empregos formais ¿ entre 2007 e 2010, 84% das vagas pagavam até três mínimos ¿ foram outras condicionantes fundamentais para a distribuição de renda. "Sem esse avanço, o aumento real do salário mínimo, ainda que ocorresse, teria menos efeitos distributivos sobre a população", afirmou.

Concentração A redução da população economicamente mais vulnerável não foi suficiente, entretanto, para alterar a situação geográfica da pobreza no Brasil. Apesar da queda, entre 2004 e 2009, a pobreza continuou concentrada nos municípios do Norte e do Nordeste do país. Para o instituto, a atuação de programas sociais com ênfase nos municípios pequenos do Nordeste pode conferir maior efetividade à política de combate à miséria, alardeada pela presidente Dilma. "A grande novidade entre 2004 e 2009 foi a transformação da política social em protagonista dos processos de mudança. Algo que, se for repetido, tende a dar certo novamente", ressaltou Castro.

Embora acredite na eficácia do reajuste salarial do mínimo acima da inflação, o diretor do Ipea lança dúvidas sobre a previsão de 50% de aumento do piso nos próximos quatro anos. "É um reajuste incerto e depende da expansão do Produto Interno Bruto (PIB). Dessa forma, pode se configurar um otimismo exagerado", ponderou. A dependência do avanço econômico se deve à fórmula de elevação do mínimo acordada entre Dilma e as centrais sindicais. Ela leva em conta a variação do PIB de dois anos anteriores ao da correção somada à inflação do ano anterior. O incremento de mais de 13% previsto para 2012, por exemplo, é composto pelo crescimento de 2010 (7,5%), acrescido da alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve superar os 6%.

O estudo do Ipea destacou ainda que, em 2009, 107 milhões de brasileiros viviam com menos de R$ 465 per capita mensais. Além disso, os 51% considerados extremamente pobres estavam inativos ou desocupados em 2009. Já entre os pobres o índice era de 40%. A desigualdade social, medida pelo índice de Gini, reduziu 6% nos anos analisados e passou de 0,565 para 0,538. A desigualdade na distribuição de renda, por sua vez, diminuiu 5,6%, enquanto a renda real subiu 28%.

Diferenças O índice de Gini aponta a diferença entre o rendimento dos mais pobres e o dos mais ricos. O valor varia de 0, quando não há desigualdade, a 1, no caso de ser registrada a diferença máxima.