Título: DF em estado de emergência
Autor: Calcagno, Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2011, Cidades, p. 23

Decreto do governador Agnelo Queiroz que estabelece o agravamento da situação foi publicado ontem no Diário Oficial. Incêndios nas reservas do Distrito Federal já provocaram a morte de muitos animais. Dos 10 bichos feridos levados ao zoológico, três não resistiram

O Distrito Federal passou da situação de alerta para a de emergência devido aos incêndios florestais. O decreto contendo a decisão, assinado pelo governador Agnelo Queiroz, foi publicado ontem no Diário Oficial do DF. No entanto, como há sinais de aumento da umidade relativa do ar, a vigência da resolução, inicialmente de 60 dias, pode acabar assim que o risco de queimadas for reduzido.

De acordo com o GDF, o decreto é resultado, principalmente, do fato de os incêndios já terem atingido mais de 35 mil hectares e do desconforto causado à população pelas queimadas, que provocaram fuligem e poluição. O documento prevê a possibilidade de as secretarias de Meio Ambiente e Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros adquirirem materiais como bataclaves, máscaras, abafadores e bombas costais, a fim de impedir o alastramento das chamas.

Ontem, os bombeiros registraram 23 ocorrências de fogo até o fim da tarde, contra 12 no dia anterior. Entre os mais graves estão o incêndio subterrâneo na Quadra 20 do Park Way, que até o fechamento desta edição ainda era combatido, e o do Vale do Sansão, em Sobradinho 2, local de difícil acesso. No último caso, os militares traçam estratégias de ação que sejam seguras também para os homens da corporação, pois o terreno é muito acidentado.

Com a redução dos focos de queimadas ¿ nos momentos mais críticos da seca foram registrados 95 atendimentos por dia ¿, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar Ambiental e veterinários do Zoológico de Brasília começam a contabilizar os danos: além da devastação da mata, o cerrado sofre com inúmeros animais mortos e vários feridos em decorrência das chamas.

Policiais da Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA) já levaram para o Zoológico de Brasília um filhote de lobo-guará, um tamanduá-bandeira, um ouriço-cacheiro (espécie de roedor parecido com um porco-espinho), um mico-estrela, um tatu, quatro corujas e um filhote de quero-quero, batizado de Chaveirinho. O lobo, uma coruja e o macaco não resistiram aos ferimentos e à intoxicação por fumaça. O tamanduá, três corujas e o ouriço continuam no hospital veterinário e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) levou o restante. "Atendemos muitos animais em extinção. Tentamos não nos envolver emocionalmente, mas em situações catastróficas, como as de incêndio, ficamos abalados", contou uma das veterinárias do hospital, Luísa Helena Rocha.

O tamanduá está com o focinho, as patas dianteiras e partes do corpo muito queimados. Soldados da CPMA levaram o animal para a unidade na sexta-feira passada. Somente ontem o mamífero apresentou melhoras. Para alimentá-lo, os veterinários utilizam uma sonda. Segundo Luísa, o bicho teve sorte de não queimar a língua e as vias respiratórias com a fumaça. Nesse caso, não resistiria. O sinal de melhora veio quando ele tentou repelir os veterinários que o tratavam na manhã de quinta. "Até ontem (quarta-feira), não sabia se ele iria sobreviver. Agora, começamos a ter esperança. Ele resiste quando tratamos dele, mas é melhor assim", comemorou.

O filhote de lobo-guará, uma das corujas e o quero-quero chegaram à unidade com intoxicação. O mico também estava com queimaduras graves. Os dois primeiros morreram em menos de 24 horas. Somente Chaveirinho conseguiu sobreviver. Segundo a veterinária, animais de pequeno porte e os muito novos são as principais vítimas das queimadas. "Quando o fogo chega, as árvores queimam muito rapidamente. Além disso, alguns bichos ficam presos entre duas áreas de queimada. O tatu canastra é um animal que não tem chance. E muitas vezes os pais deixam os filhotes para trás porque não dá tempo de salvá-los. Se um animal chega até nós ferido, isso é só a ponta do iceberg. Significa que muitos outros morreram", lamentou Luísa.

Ameaça Segundo o tenente coronel Cláudio Ribas, comandante da CPMA, o fogo é ainda mais mortal para os animais porque a vegetação nativa do DF está restrita a reservas. "Quando não havia cidade, se houvesse um incêndio, o animal simplesmente fugia. Agora ele vai encontrar uma cerca ou uma estrada. Vai morrer queimado ou atropelado. Em alguns anos, a flora local vai se regenerar, mas as espécies, não. Se continuarmos nesse ritmo, muitas correrão risco de extinção", disse.

Policiais militares percebem a diminuição no número de animais durante o patrulhamento nas matas. De acordo com Ribas, há cerca de 10 anos, era comum encontrar veados campestres, tatus, tamanduás e outros bichos nativos da região. "Agora, no entanto, é cada vez mais raro. Isso porque a perda da fauna é irreparável", alertou. "É preciso ter consciência de que não podemos atear fogo próximo às vegetações. Tem muita gente interessada em partes do Parque Nacional, na Reserva de Águas Emendadas, para transformar o local em condomínios e residências. Somos obrigados a apelar a essas pessoas para que não façam isso. O reflexo virá nas futuras gerações. Também é importante denunciar ao ver alguém ateando fogo às matas", pediu.

Pior em 2010 De acordo com o diretor de combate ao desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires, apesar de as queimadas de 2011 no DF destruírem áreas de preservação e pesquisa como a Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília, a reserva do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e quase um quarto da Floresta Nacional, os danos causados em 2010 ainda foram maiores. Primeiro, porque a seca foi mais severa e, segundo, porque os anos anteriores tiveram menos destruição e a mata cresceu no período.

Dicas » Evite acender fogueiras e qualquer outro tipo de fogo próximo a áreas verdes; » Caso a fogueira seja imprescindível, limpe em volta do local e, ao apagá-la, jogue muita água e terra para se certificar de que não haverá rescaldo; » Principalmente no caso de propriedades rurais, é importante fazer aceiros (faixa de terreno sem vegetação) nos limites dos terrenos; » Evite utilizar fogo para limpeza do terreno ou do pasto. Se for realmente necessário, peça ajuda do Corpo de Bombeiros; » Não junte lixo próximo à vegetação e não queime materiais, entulhos ou restos de podas; » Fósforos e isqueiros devem ficar fora do alcance das crianças.

Fonte: Corpo de Bombeiros