O Estado de São Paulo, n. 44607, 04/12/2015. Economia & Negócios, p. B1

Bolsa sobe 3,29% e dólar cai com avanço do pedido de impeachment

A primeira reação do mercado financeiro ao pedido de abertura de impeachment da presidente Dilma Rousseff foi de euforia.Indicadores importantes para medir a confiança dos investidores tiveram desempenho positivo. O Ibovespa (índice que reúne as ações mais negociadas na bolsa) fechou com ganhos de 3,29%. A cotação do dólar teve a maior queda diária em
um mês,2,13%,indo abaixo de R$ 3,75. Mas os analistas financeiros dizem que os próximos dias tendem a ser de instabilidade
e não de melhora do cenário econômico.


Por trás do movimento está a avaliação de que, com a eventual saída da presidente, o governo pode recuperar poder político,
mudanças podem ser feitas na economia e a confiança tende a retornar. “Por que o mercado compra Bolsa e vende
dólar? Porque acha que a Dilma pode sair. E neste caso, todo mundo quer ser o primeiro a fazer isso, para aproveitar”, disse
o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior. “Faz sentido do ponto de vista especulativo.” Ou seja,
pode não prevalecer nos próximos dias e favorece a instabilidade.


Um sinal de que a reação inicial pode ter sido mais de euforia do que de renovação da crença em relação ao Brasil está no
salto da cotações.Entre as maiores altas figuraram estatais e bancos: Banco do Brasil O Nsubiu 8,40%,Petrobrás PN,6,12%,
Itaú Unibanco PN, 6,35%. Até os papéis do Banco BTG, que despencavam sem trégua desde a prisão de seu controlador, subiram 1% ontem.


“Acredito que a notícia do processo de impeachment pegou muito investidor de calça curta e isso levou muita zeragem de posição vendida(  sair do investimento),o que acabou impulsionando papéis relevantes da Bovespae,porta bela,sustentando
o índice – ou você acha que alguém tem argumento para comprar BB e o papel subir assim? Claro que não”, disse
um operador, que pediu para não ser identificado.


O impeachment foi assunto em todas as mesas de operação. Ficaram de lado temas relevantes, como a Ata do Copom (Comitê
de Política Monetária do Banco Central), produção industrial e até mesmo o forte recuo das bolsas americanas. Incerteza. No sentido prático, porém,para os analistas, prevalece a incerteza. “A situação é tão complicada que não dá para esperar grande mudança no curto prazo – o que muda é a questão da confiança, mas a realização de reformas para estancar a tendência ruim é outro desafio.


Ainda é cedo para avaliar”, disse o analista da Quantitas, Wagner Faccini Salaverry.Os economistas do banco norte-americano Bank of America Merrill Lynch chegaram a avaliar que a abertura do processo de impeachment é negativa para a economia do Brasil no curto prazo. Eles consideram que,além de demorado,o trâmite pode aumentar a volatilidade no mercado financeiro na medida em que crescem as incertezas sobre os resultados. Também projetaram que pode ficar ainda mais difícil para o governo conseguir aprovação para as medidas do ajuste fiscal.


Um componente que vai definir a velocidade e o desfecho do processo – que será monitorado pelo mercado – é a reação
das ruas.O se conomistas do Bo-FA responsáveis por Brasil, David Beker e Ana Madeira,em um relatório a investidores, desta caram que o papel da população será decisivo.


Apoio popular. Em sua análise,o banco suíço Credit Suisse seguiu o mesmo princípio. “O apoio popular e o engajamento
da população pelo impeachment ainda não se materializou. Este, por exemplo, foi o caso no processo de impedimento
que levou ao fim do mandato do então presidente Fernando Collor,em 1992”,destaca o banco, em relatório enviado a clientes.
A instituição financeira avalia, porém,que não se pode descartar as chances de o processo ser barrado antes disso,já na Comissão Especial a ser formada por representantes dos 26 partidos com representação na Câmara.


“A composição desta comissão,ainda desconhecida”,estima o banco. Segundo profissionais do mercado, o diagnóstico é de
que, caso Dilma permaneça nos próximos três anos, deve ocorrer uma continuidade do quadro atual, com um embate entre Congresso e governo e a dificuldade de aprovação das medidas fiscais. / ALTAMIRO SILVA JUNIOR, DENISE ABARCA, MARIA NAWEB REGINA SILVA e MÁRIO BRAGA.