Título: O lance do Brasil
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2011, Política, p. 2

O Brasil, que antes não era ouvido nas questões econômicas, está hoje ajudando o Tio Sam como nunca. Nesse quesito, o país vale muito mais para os americanos que muita gente boa do Quarteto de Madri

Chegou a hora de Dilma finalmente mostrar a que veio no plano internacional. Nesta quarta-feira, quando fará seu primeiro pronunciamento ao mundo, pela primeira vez, ela estará frente a frente com quase duas centenas de chefes de Estado.

Ali, terá a chance de apresentar a forma que escolheu para enfrentar a crise: o desenvolvimento social. Em vez de cortar tudo, promover investimentos. Em vez de baixar aquela ordem de economia total, o governo quer incentivar seus parceiros a consumir. E, de quebra, tentará ainda levar os outros a seguirem seu exemplo.

Ok, você deve estar pensando: e quem vai seguir os conselhos da presidente brasileira? Talvez ninguém. Como disse-me o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, enquanto amarrava os sapatos no Hotel Waldorf Astoria, "somos uma gota no oceano", "um em 200". É pouco, talvez muito pouco.

Garcia se referia especialmente ao debate sobre a criação do Estado da Palestina, que o Brasil reconheceu por meio de uma carta ao líder Mahmud Abbas em dezembro do ano passado. É fato que a presidente brasileira, conforme o Correio publicou no sábado, defenderá de forma enfática a criação do Estado da palestina e tem razão em fazê-lo: se foi criado o Estado de Israel, por que não dar o mesmo aos palestinos?

Um em 200 No geral, esse é um tema em que o Primeiro Mundo faz ouvidos de mercador à posição brasileira. Nesse quesito, os países ricos se esquecem do voto do Brasil em favor da criação do estado de Israel no pós-guerra. Por isso, talvez Marco Aurélio Garcia esteja certo ao tratar do Brasil como um em quase 200. Ontem, o Quarteto de Madri (Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas) para a paz no Oriente Médio se reuniu em Nova York justamente para avaliar essa questão a respeito do estado da Palestina, no sentido de tentar busca um acordo, ao mesmo tempo tentar dissuadir os palestinos. Mais um sinal de que a posição brasileira não tem muito peso.

Yes, nós temos $$ Mas nem só de Palestina vive o Brasil nesta semana em Nova York. O país que implantou o plano Real ¿ e seguiu num caminho mais promissor desde o governo Itamar Franco, é bom registrar ¿ está na moda. São os brasileiros que enchem todos os voos das principais companhias rumo a Miami e a Nova York. Nas ruas de Manhattan, ouve-se português, sem exageros, nas principais lojas da cidade. A ponto de os comerciantes começarem uma campanha pelo fim do visto para brasileiros entrarem nos Estados Unidos.

Essa moda econômica ¿ ruim para a nossa economia interna, uma vez que representa exportação de riqueza ¿ pode ajudar a presidente Dilma a tentar mostrar o novo fôlego do Brasil nessa seara. Afinal, o país que antes não era ouvido nas questões econômicas está hoje ajudando o Tio Sam como nunca. Nesse quesito, o país vale muito mais para os americanos do que muita gente boa do Quarteto de Madri.

E no mais... A entrada no ministro Orlando Silva na comitiva da presidente Dilma ¿ ele iria a Nova York, mas não para acompanhar toda a programação e nem no avião presidencial ¿ também é mais uma aposta do governo brasileiro. Afinal, a Copa do Mundo e as Olimpíadas são atrativos de investimentos e promoção do Brasil. Dilma não quer perder esse bonde. E se delicia tanto em sonhar com todas as chances que tem de aproveitar essa oportunidade quanto com as obras de Frans Hals no Metropolitan. Ela que ontem deu um banho de arte, agora quer dar um banho de Brasil esta semana nos outros países presentes à Assembleia Geral da ONU. Nem que seja apenas umas gotinhas.