Youssef envolve Palocci em propina de R$ 2 mi

Eduardo Militão 

10/11/2015

Um novo depoimento do doleiro Alberto Youssef trouxe mais uma pista para os investigadores da Operação Lava-Jato descobrirem se é verdade a suspeita de que a campanha de 2010 da presidente Dilma Rousseff recebeu dinheiro desviado da Petrobras. Em 29 de outubro passado, ele afirmou à Polícia Federal que repassou R$ 2 milhões para uma pessoa indicada pelo ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa em um hotel de São Paulo em 2010.
 
Paulo Roberto foi o primeiro a dizer que Palocci lhe procurara para repassar R$ 2 milhões à campanha do PT e que Youssef se encarregara de fazer o trabalho. Mas o doleiro disse que não sabia desse envolvimento de Palocci e afirmou que nunca transportou dinheiro para o ex-ministro. No entanto, ao ser inquirido, Youssef afirma que, a pedido do ex-diretor da Petrobras, pagou uma pessoa no Hotel Blue Tree da avenida Faria Lima, em São Paulo, entre junho e outubro de 2010.
 
A PF exibiu a foto do ex-assessor de Palocci e da Casa Civil Presidência da República Charles Capella de Abreu, e o doleiro confirmou ser a pessoa, com "70% a 80%" de chances.
 
O advogado de Palocci, José Roberto Batocchio, disse que as declarações do doleiro e também do lobista Fernando "Baiano" Soares mostram que há "mil mentiras" para esconder outras contadas anteriormente. O defensor se refere às contradições nos três depoimentos. Fernando Baiano disse, em 15 de setembro, que acertou um encontro entre ele, Paulo Roberto Costa e Palocci por meio de um amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pecuarista José Carlos Bumlai, em 2010. Nesse encontro, ficou acertado o pagamento para a campanha de Dilma Rousseff com recursos do esquema. Mas o próprio Paulo Roberto nega a existência dessa reunião.
 
No ano passado, o ex-dirigente afirmou que foi o doleiro quem lhe pediu os R$ 2 milhões para repassar à campanha por meio de Palocci, mas afirmou, agora em outubro, que não se reuniu com o ex-ministro. "Nunca tratou com Antonio Palocci sobre qualquer auxílio financeiro para a campanha presidencial de 2010", disse Paulo Roberto no mais novo depoimento.
 
Baiano afirmou em setembro que o repasse foi feito por Youssef, conforme soube do próprio doleiro em conversa na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. E, agora, o doleiro diz que pagou a pessoa semelhante a Charles.
 
O PT nega ter recebido doações eleitorais oriundas de esquema de corrupção na Petrobras ou não contabilizadas na Justiça Eleitoral. Para o advogado de Palocci, as declarações de Baiano e Yousseff foram "idealizadas no xadrez". "Quem diz uma mentira tem que mentir mil vezes", disse Batochio ao Correio.
 
O advogado defendeu a perda da validade das declarações da dupla e dos benefícios que obtiveram com delação premiada, como redução da pena nos processos em que forem condenados. "Palocci nunca esteve com essas duas pessoas e não arrecadou dinheiro." A reportagem não localizou Charles Capella.
 
Empréstimo de Collor
Um amigo e ex-ministro do senador Fernando Collor (PTB-AL), denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava-Jato, afirmou que repassou R$ 1 milhão para o parlamentar por meio de Youssef para conceder um empréstimo. O empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, o "PP", disse à PF que não tinha negócios com o congressista. Afirmou que Collor lhe pediu R$ 1 milhão em 2011, e o crédito foi concedido por meio do doleiro. "PP" disse que não formalizou o empréstimo. Relatou que, nos anos 90, ele pegou o mesmo valor emprestado de Collor e só pagou o senador em 2000. Até hoje, o ex-presidente da República não pagou o crédito tomado em 2011 de "PP", segundo o depoimento. 
 
Correio braziliense, n. 19160 , 10/11/2015. Política, p. 4