Levy deve sair no fim do ano

Alessandra Azevedo

Antonio Temóteo 

10/11/2015

Rumores sobre a possível saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do governo na virada do ano voltaram a impactar o mercado financeiro. O assunto é tratado reservadamente no Palácio do Planalto, mas foi confirmado ao Correio por dois políticos com trânsito na equipe da presidente Dilma Rousseff. Especialistas alertaram que, se confirmada, a demissão fará estragos na economia e jogará por terra qualquer possibilidade de reação da atividade, mesmo em 2017. Diante do temor de Dilma demitir Levy, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) registrou queda de 1,54%, aos 46.194. E o dólar fechou em alta de 0,99%, cotado a R$ 3,80. 

 Os opositores de Levy, entre eles, o ex-presidente Lula, defendem que o governo precisa liberar mais crédito para impulsionar a economia. Eles reclamam que o ministro não foi capaz de cumprir o papel para o qual foi escolhido, de executar o ajuste rapidamente e evitar o rebaixamento da nota de crédito do país. Levy é contra os estímulos ao consumo e o uso dos bancos públicos e reclama que, sozinho, não é capaz de convencer a base aliada a aprovar o ajuste necessário para reequilibrar as contas públicas. 

"A saída de Levy é esperada, mas qualquer troca sempre gera tensão no mercado financeiro", afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. A principal preocupação é quem seria o substituto. "O governo precisaria tomar muito cuidado para não indicar alguém que seja visto de forma negativa pelo mercado", alertou. Como consequência de uma má escolha, o dólar poderia chegar aos R$ 5 e a bolsa de valores cair a 40 mil pontos. 

Para o impacto ser menor, o perfil do novo ministro precisaria ser bastante ortodoxo e firme nas medidas necessárias para tirar o país do buraco. "Seria bem aceito um nome que, no mesmo sentido de Levy, acreditasse na necessidade de se fazer um ajuste com urgência, inclusive com aumento de impostos", afirmou Agostini. 

Instabilidade 

Segundo ele, um diferencial em relação ao atual ministro seria maior trânsito no Congresso. "Não se sabe se, hoje, alguém teria o desejo de assumir a pasta. Poucos se arriscariam, mas seria benéfico alguém que tivesse mais experiência política", disse Agostini. É consenso entre os especialistas que o mercado não veria com bons olhos um ministro com viés mais heterodoxo, que rejeitasse o ajuste fiscal e optasse pelo aumento do consumo como estratégia para sair da crise. 

Ao economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, não restam dúvidas de que a troca do ministro impactaria ainda mais o desempenho do mercado financeiro, já instável nos últimos meses. "Quem entrasse no lugar dele precisaria começar do zero para aplicar as medidas. Se o Levy não foi capaz de aprovar o ajuste, por que o próximo conseguiria?", questionou. 

Para Alexandre Chaia, professor do MBA do Insper, a troca na Fazenda não teria efeito prático. "Entrar alguém com perfil mais governista pioraria muito a situação. E, se for para pegar alguém com o mesmo perfil, já desgastado, não faz sentido mudar", disse. 

Pior ano para 
o comércio 
O movimento dos consumidores recuou 3,3% em outubro ante setembro, o pior resultado mensal do varejo nacional neste ano, aponta o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio. Na comparação com outubro de 2014, houve retração de 7,9%, pior resultado desde maio de 2003. A confiança dos empresários do comércio também desabou. O índice recuou 3,0% em outubro ante setembro, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC). A expectativa é de que as vendas encolham 3,6% este ano, muito próximo do pior resultado da história: queda de 3,7% em 2003. 

Correio braziliense, n. 19160 , 10/11/2015. Economia, p. 8