Alívio só em 2017

Simone Kafruni

08/11/2015

PIB vai se reduzir ao menos 3% em 2015 e, diante da incapacidade do governo de equilibrar as contas públicas, as expectativas para 2016 pioram, com estimativas de queda de 2%. Há chances de recuperação no ano seguinte %u2013 mas nem isso é garantidoSIMONE KAFRUNI
O ano está acabando com indicadores econômicos tão ruins que já contaminaram 2016 bem antes da mudança no calendário. Para tirar o Brasil do atoleiro, será preciso desatar muitos nós, a começar pelo ajuste das contas públicas e pela recuperação da confiança. Só assim o alívio pode chegar com 2017.

Na opinião de alguns especialistas, contudo, há possibilidade de o país emplacar três anos de recessão, com queda no Produto Interno Bruto (PIB) também em 2017. Para tanto, explicam os analistas, basta o governo continuar patinando na crise política que o paralisou.

Pelo andar da carruagem, a presidente Dilma Rousseff poderá conseguir a proeza, inédita no país, de entregar uma média negativa do PIB em seu segundo mandato. “Este governo é politicamente fraco, não apresenta soluções e não consegue fazer os ajustes. No início deste ano, a expectativa era de que poderia haver recuperação em 2016. O que vimos foi o contrário, o fiscal se agravou, houve aceleração do endividamento e isso comprometeu o próximo ano. Isso pode se repetir”, sentencia o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.

Para o especialista, as previsões são de queda no PIB de 3% este ano e de 2% no ano que vem, com números negativos, ou, na melhor das hipóteses, estabilidade em 2017. “O país está preso num círculo vicioso. As medidas de ajuste fiscal não são implementadas, o que agrava o risco-país. Se perder o grau de investimento por mais agências de classificação de risco no ano que vem, vai ser difícil sair da recessão”, lamenta o economista.

Desconfiança

Na avaliação do professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Waldemir Luiz de Quadros, o problema do país reside no tripé Presidência da República, Ministério da Fazenda e Banco Central. “Eles não passam segurança para os agentes econômicos e o que a gente viu foi uma sucessão de surpresas desagradáveis. Havia uma ilusão de que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, seria o fundamento sólido para promover os ajustes, mas ele já mostrou que não tem poder para fazer o que precisa ser feito. O nó é político”, afirma.

Quadros explica que os indicadores econômicos do país se deterioraram numa velocidade surpreendente. “O PIB desabou, o desemprego e a inflação dispararam, e o rombo das contas públicas aumentou violentamente. Tudo isso ocorreu de forma muito rápida. A reversão também poderia ocorrer com a mesma rapidez se o governo fosse forte politicamente. Mas ele não passa a mínima credibilidade. Não consegue aprovar nada no Congresso e não convence ninguém”, ressalta.

A confiança nos responsáveis pela política econômica se esvaiu porque eles não entregaram nada do que prometeram. O ministro Levy, tido como o salvador da pátria por ser conservador e ortodoxo, não conseguiu estancar a sangria no caixa do governo. Ao tomar posse, disse que o país faria superavit primário (economia para pagamento dos juros da dívida). No entanto, vai entregar um deficit recorde de R$ 120 bilhões, o equivalente a 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2016, a intenção é fechar o ano com resultado superavitário em 0,7% do PIB. Ninguém acredita mais nisso, porém.

A paralisia do país, na visão do ex-diretor do Banco Central Carlos Eduardo de Freitas, presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon/DF), é resultado de um impasse entre o governo e a sociedade. “O governo petista é socialista, defende a distribuição de renda e quer fazer ajuste apenas com aumento de impostos. A sociedade quer ver as contas públicas em dia com redução de gastos”, explica.

Freitas acrescenta que o crescimento poderia começar a ocorrer naturalmente já em 2016 se tal impasse fosse resolvido. “No entanto, a única saída apresentada por este governo é a recriação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Ele não fez nenhuma outra proposta para aumentar a renda e arrecadar mais, gastando menos. A saída que ele oferece, com mais impostos, só vai gerar pobreza para distribuir pobreza”, lamenta. 

 

Correio braziliense, n. 19158 , 08/11/2015. Economia, p. 9