Correio braziliense, n. 19164, 14/11/2015. Política, p. 2

Manifestações levam tensão à Esplanada

Nívea Ribeiro

Polícia prende homem armado entre os acampados em frente ao Congresso Nacional, que querem o impeachment de Dilma. Em passeata, estudantes pediram a saída do presidente da Câmara, Eduardo Cunha

Brasília teve uma sexta-feira marcada por protestos e manifestações pela saída de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) da Presidência da Câmara dos Deputados. Um protesto estudantil partiu pela manhã do Parque da Cidade, desceu a Esplanada e terminou em frente ao Ministério da Educação (MEC), evitando o encontro com outro grupo de manifestantes acampados em frente ao Congresso, que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Na quinta-feira, a Polícia Militar prendeu um manifestante desse grupo com arma de fogo, soco inglês e outros objetos. Ontem, a polícia prendeu um policial civil do Maranhão junto aos acampados. Ele teria ameaçado um estudante com uma arma de fogo.

Os estudantes pedem, além da saída de Cunha, a manutenção do governo Dilma. Também protestam por melhorias na educação pública e pela defesa de direitos das mulheres, dos negros e dos LGBTs. Segundo a Polícia Militar, 4 mil pessoas participaram da manifestação, e menos de 1 mil chegaram ao Congresso. Já para as lideranças, o número inicial foi maior, cerca de 7 mil.

“Em menos de um ano, Cunha já conseguiu apresentar projetos que vão contra o que conseguimos conquistar com muito suor. Não queremos retrocesso. Ele não está a par das demandas da juventude; precisamos de um presidente da Câmara que consiga dialogar com os movimentos sociais”, afirmou a estudante Vitória Davi, 18 anos, da União da Juventude Socialista (UJS). Entre as reivindicações relacionadas ao deputado peemedebista, os grupos femininos exigiam a rejeição do PL 5.069/2013, que dificulta o acesso a atendimento hospitalar por vítimas de estupro.

Participaram do protesto também a União Nacional dos Estudantes (UNE), a União da Juventude Socialista (UJS), a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e outros movimentos integrantes da Frente Brasil Popular.

Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), que ocorre no Parque da Cidade até domingo, reúne aproximadamente 10 mil estudantes de todo o país.

Tensão

Na quinta-feira, a Polícia Militar prendeu por porte de arma um homem que participava do acampamento pró-impeachment, instalado na frente do Congresso. A Polícia Civil informou que ele é policial militar reformado. Segundo informações da PM-DF, o homem teve o carro revistado quando foi registrar uma ocorrência por ameaça na 5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte. No veículo, os policiais encontraram, além de uma pistola, um porrete, 12 latas de spray de pimenta, um soco inglês, um canivete e vários furadores de coco.

A situação causou temor entre os manifestantes liderados pela Ubes, que, ao saberem da informação, mudaram o trajeto do protesto: eles apenas passaram em frente ao Congresso e pararam diante do Ministério da Educação. Entretanto, provocações foram proferidas do carro de som: “Não embarcamos na manifestação do Movimento Brasil Livre, dos Revoltados Online, e de meia dúzia de playboys que dizem representar o povo brasileiro”, disse Carina Vitral, presidente da UNE.

Durante o protesto, um policial civil do Maranhão foi detido por ameaçar um manifestante com uma arma de fogo. O policial tem porte, mas o Estatuto do desarmamento não permite que armas sejam usadas em lugares com grande aglomeração de pessoas. O homem, que alegou que estava no local visitando um amigo acampado, foi encaminhado para a Corregedoria da Polícia Civil, de acordo com informações da PM-DF. A Polícia Civil não deu informações sobre o caso.

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