O globo, n. 30.062, 27/11/2015. Economia, p. 4

Após prisão, Delcídio entra em licença remunerada no Senado

Oposição quer abrir processo contra petista no Conselho de Ética

-BRASÍLIA- O senador Delcídio Amaral (PT-MS) está de licença automática e por tempo indeterminado. Segundo a Secretaria Geral da Mesa Diretora do Senado, o petista está de licença com base no artigo 44 do Regimento Interno da Casa, que trata exatamente de uma licença específica para casos em que o senador esteja “temporariamente privado de liberdade”, ou seja, preso. Mesmo em detenção, Delcídio continuará recendo salário de R$ 33,7 mil mensais por, pelo menos, quatro meses.

JORGE WILLIAMO ‘day after’. A mesa do senador Delcídio Amaral vazia no plenário do Senado, em Brasília: caso gera muitas dúvidas

Nova interpretação da Secretaria Geral da Mesa, informada no final da tarde de ontem, entende que, depois de 120 dias, é preciso chamar o suplente para o estado de Mato Grosso do Sul não ficar sem representante no Senado. Mas há ainda uma dúvida se, depois dos quatro meses, Delcídio continuaria recebendo salário.

Por enquanto, a interpretação é que ele deverá continuar recebendo salário depois de quatro meses, porque seria uma licença involuntária, assim como é a licença médica. Mas trata-se de um caso novo no Senado, e as regras serão definidas pela Mesa Diretora, comandada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). SUPLENTE: LAÇOS COM BUMLAI O primeiro suplente de Delcídio é o empresário Pedro Chaves. Segundo informações de jornais do Mato Grosso do Sul, Chaves é ligado à família do empresário José Carlos Bumlai, preso na última terça-feira. A filha do suplente, Neca Chaves Bumlai, é casada com Fernando Bumlai, filho do empresário.

O senador Paulo Paim (PTRS) pediu informações à Secretaria-Geral da Mesa sobre o tipo de licença que Delcídio tiraria.

Diante da resistência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a tomar a iniciativa de encaminhar ao Conselho de Ética o ofício com o resultado da votação do plenário que manteve a prisão do líder do governo, Delcídio Amaral (PT-MS), líderes dos partidos de oposição no Senado — PSDB, DEM, Rede e PPS — se preparam para encaminhar, no início da semana que vem, representação pedindo a abertura do processo por quebra de decoro contra o petista.

O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), pediu ontem a Renan, em conversa por telefone, que envie o ofício ao Conselho de Ética, para que o órgão dê início ao processo. Mas não obteve resposta. O tucano disse que, se isso não ocorrer, as oposições representarão junto ao conselho na próxima semana. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) avisou que entrará com a representação já na terça ou quartafeira. Depois da votação tensa de anteontem, em que foi derrotado na decisão de deliberar sobre a prisão com voto secreto, Renan permaneceu na residência oficial e não falou com a imprensa.

— Queremos que a Mesa Diretora oficie o Conselho de Ética. Caso Renan não faça isso, os partidos farão a representação junto ao Conselho de Ética. Considero que houve quebra de decoro porque as gravações de Delcídio falam por si só — disse Cássio Cunha Lima.

Vice-presidente do Conselho de Ética do Senado, o senador Paulo Rocha (PT-PA) disse que será uma tarefa “dolorida” enfrentar o processo de quebra de decoro do correligionário Delcídio Amaral, mas terá que agir com “racionalidade”. O presidente do órgão é o senador João Alberto (PMDB-MA).