O globo, n. 30.062, 27/11/2015. Economia, p. 7

Teori determina que André Esteves seja transferido para presídio.

Ministro negou pedido da defesa para revogar a prisão do banqueiro

Por ordem do STF, o banqueiro André Esteves, sócio do BTG preso anteontem acusado de tentar obstruir investigações da Lava-Jato, foi transferido da sede da PF no Rio para o Presídio Ary Franco e, depois, para Bangu 8. O BTG montou uma “operação de guerra” para lidar com a crise. -BRASÍLIA- O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki determinou a transferência do banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual, para um presídio no Rio. Ele foi levado para o Ary Franco, em Água Santa, e, no início da madrugada, encaminhado para Bangu 8, no complexo penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste.

ALEXANDRE CASSIANOLava-Jato. André Esteves (de óculos) no carro que o levou para o presídio

Esteves foi detido anteontem na mesma operação que levou à prisão o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Foi aberto inquérito, que tramita em sigilo no STF, para investigar o senador e também Esteves.

Teori determinou a transferência de Esteves acatando sugestão da Polícia Federal. O banqueiro estava detido desde anteontem na Superintendência da PF no Rio, e o órgão informou não ter condições de mantê-lo. O ministro rejeitou ainda pedido da defesa que buscava a revogação da prisão temporária de Esteves. A prisão tem validade de cinco dias. Antes do término desse prazo, o Ministério Público Federal precisa decidir se pede a conversão em preventiva, cuja duração pode se estender até o fim da tramitação do caso, ou mesmo o relaxamento da detenção. A prisão preventiva é decretada quando há mais elementos contra o acusado do que na temporária.

Para que o banqueiro fosse solto, a defesa de Esteves argumentava que não estavam mais presentes os fundamentos que levaram à medida: a possibilidade de Esteves obstruir as investigações ou fugir.

A Procuradoria-Geral da República já começou a preparar a denúncia contra Delcídio, mas há uma dúvida entre os procuradores do caso. E ainda não há informação se Esteves será incluído na denúncia. Os investigadores também ainda não definiram se vão fazer a acusação formal contra o senador até a próxima terça ou se deixam a formalização do ato no Supremo para dezembro. Há diferenças de interpretação das leis que tratam no assunto.

Uma das hipóteses é que a denúncia teria que ser apresentada cinco dias depois da prisão. Delcídio foi preso na quarta-feira. Assim, a denúncia teria que chegar ao STF até segunda-feira. A outra tese é que, pelas regras, a denúncia teria que ser formulada cinco dias após a conclusão do inquérito. O inquérito teria prazo de 15 dias, renováveis por mais 15. Assim, eles teriam 35 dias para concluir o trabalho. A tendência é que prevaleça a 2ª hipótese.

Delcídio prestou depoimento ontem a um delegado da PF. Dois procuradores e dois advogados do senador acompanharam o interrogatório. O depoimento começou às 15h30m e terminou às 19h20m. Pela manhã, o advogado Maurício Silva Leite esteve reunido por cerca de um hora com o senador petista. Delcídio também recebeu visita do seu assessor de imprensa Eduardo Marzagão, que levou roupas e refeições. Segundo Marzagão, Delcídio está sereno, mas ninguém da família o visitou ainda.

Os procuradores começaram a analisar ontem mesmo os documentos apreendidos para ver se, a partir do material, acrescentam novos dados a denúncia. O entendimento interno, no entanto, é que os indícios recolhidos até o momento são avassaladores e podem sustentar uma contundente denúncia contra o senador e outros suspeitos sem qualquer informação adicional.

O senador é acusado de se associar ao banqueiro André Esteves e ao advogado Edson Ribeiro para manipular decisões do STF e do Superior Tribunal de Justiça e assim obstruir as investigações da Lava-Jato e, no mesmo pacote, patrocinar a fuga do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. O ex-diretor está preso em Curitiba e, recentemente, fez acordo de delação premiada.

Delcídio é acusado de tentar subornar Cerveró e evitar que ele fizesse revelações contra ele e negócios de André Esteves.

Para o advogado do banqueiro, Esteves foi apenas citado na reunião que levou Delcídio à cadeia. Segundo ele, não há indício de que o cliente tenha participado da trama atribuída a Delcídio e a Ribeiro. Ele argumenta que Esteves não teve acesso a delação de Cerveró como indica a conversa do senador com o advogado. (Colaborou: André de Souza)