Título: Abbas vai à ONU sob ataques do Hamas
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2011, Mundo, p. 13

Radicais condenam concessões a Israel. Em pesquisa, 87% apoiam a iniciativa na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, mas temem reações

O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, embarcou ontem da Jordânia com destino a Nova York, onde na sexta-feira defenderá perante a Assembleia Geral das Nações Unidas o pedido de reconhecimento de um Estado soberano e sua adesão como o 194º país-membro da ONU. Abbas viaja confiante no apoio de cerca de 140 nações, porém sabendo que o ingresso pleno na organização será vetado pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança. E vai levar na bagagem críticas do movimento islâmico Hamas, que vê na iniciativa do presidente da AP uma renúncia ao que considera "direitos nacionais" dos palestinos ¿ entre eles o retorno de centenas de milhares de refugiados a localidades que hoje integram o território de Israel.

"Nenhum dirigente palestino tem mandato para fazer concessões históricas sobre o território palestino ou sobre os direitos nacionais, em particular o direito ao retorno", afirmou em Gaza o primeiro-ministro reconhecido pelo Hamas, Ismail Haniyeh. O movimento extremista controla a Faixa de Gaza desde 2007, depois de um conflito armado com o partido nacionalista Fatah, de Abbas. As duas fações firmaram recentemente um acordo de reconciliação, no Egito, com vista a fortalecer a campanha pelo reconhecimento na ONU, mas não conseguiram se entender para a formação de um governo de coalizão.

Não bastassem as críticas do Hamas, Abbas enfrentará na ONU a oposição cerrada de Israel e dos EUA. "A tentativa (dos palestinos) de serem aceitos como país-membro das Nações Unidas fracassará", afirmou o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, no início da reunião semanal de gabinete. "Essa tentativa fracassará porque precisará passar pelo Conselho de Segurança", completou.

O governo americano, aliado de Israel, movimenta-se intensamente nos bastidores do conselho para evitar a situação incômoda de recorrer ao poder de veto. Ele será o último recurso caso o pedido palestino tenha o voto favorável de ao menos nove dos 15 países que integram o organismo.

Represálias A acirrada disputa se reflete nos resultados de uma pesquisa de opinião feita pela empresa Near East Consulting nos territórios da Cisjordânia e de Gaza. Nela, 57% dos entrevistados se disseram confiantes no sucesso do pedido à ONU, contra 43% que reponderam o contrário. A inciativa de Abbas, no entanto, tem o apoio de 87%. Os palestinos demonstram ter consciência das dificuldades que aguardam a AP, ameaçada por Israel e pelos EUA de ficar sem o repasse de recursos vitais. De acordo com a pesquisa, 90% dos entrevistados esperam represálias israelenses, e 87% contam com retaliações americanas.