Título: Morte de testemunha complica Valdemar
Autor: Gama, Júnia; Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2011, Política, p. 8

Parlamentares do Conselho de Ética avaliam que assassinato de autor da denúncia contra deputado do PR pode provocar uma reviravolta no caso

O inferno astral que o PR tem vivido nos últimos meses, desde a queda do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) do Ministério dos Transportes, tende a aumentar na próxima semana, quando será apresentado o relatório sobre a admissibilidade do processo de cassação do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP) no Conselho de Ética. O assassinato da principal testemunha do caso, na noite da última segunda-feira, complica ainda mais a situação do parlamentar, um dos principais nomes do partido.

O deputado Dr. Ubiali (PSB-SP), integrante do Conselho de Ética, admite a inexperiência em assuntos do tipo ¿ o caso Valdemar será o primeiro em que atuará ¿, mas diz acreditar que a reviravolta provocada no caso pela morte do empresário Geraldo de Souza Amorim deve prejudicar Valdemar. "Toda vez que uma testemunha não consegue depor em um julgamento, isso deixa uma impressão ruim. Talvez o empresário tivesse pouca coisa para apresentar em seu depoimento, mas fica aquela expectativa de o que poderia ter sido a fala da pessoa", diz.

Geraldo de Souza Amorim era administrador da Feira da Madrugada, em São Paulo, e foi o autor da denúncia de que Valdemar e outros integrantes do PR estariam obtendo benefícios para que a feira continuasse funcionando com uma cessão ilegal de uso, em um pátio da rede ferroviária. O relator do processo, deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), não descarta a hipótese de queima de arquivo.

A postura cautelosa que muitos dos parlamentares do conselho estavam adotando, a pedido do próprio Valdemar, que visitou os responsáveis por decidir sobre seu futuro político, pedindo que não fosse pré-julgado, mudou após o crime. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) foi procurado por Valdemar há duas semanas e se comprometeu a analisar os documentos apresentados pelo deputado do PR em defesa própria. Para ele, o assassinato de Geraldo pode alterar a situação. "Isso muda tudo", comentou.

Crise Lideranças do PR não escondem o incômodo com o caso e tentam desvinculá-lo do processo contra Valdemar. "O partido não tem nada a ver com essa história da feira e não há nada que implique o caso com o Valdemar", afirma Lincoln Portela (PR-MG), líder da legenda. O deputado Valdemar Costa Neto informou, via assessoria, que não iria falar sobre o caso.

Desde a queda de Nascimento do Ministério dos Transportes, o PR vem sofrendo um processo de desidratação, acentuado após a adoção da independência com a saída da base governista. A desfiliação de correligionários como Sandro Mabel (GO), que conseguiu ontem uma liminar da Justiça para manter seu mandato após deixar o partido, e a movimentação do senador Clésio Andrade (PR-MG) para trocar de legenda, por conta de insatisfações com a cúpula do PR, agravam a crise interna do partido.