Título: Denúncia aceita contra Edir Macedo
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2011, Política, p. 10

Justiça transforma o fundador da Universal em réu por crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas

O líder da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, e mais três diretores da instituição passam a figurar como réus no processo em curso na Justiça Federal de São Paulo. Eles responderão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha, crimes supostamente praticados com o dinheiro doado pelos fiéis. A Justiça Federal aceitou parcialmente a denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo no último dia 12, o que transforma os denunciados em réus.

Além dos três crimes que serão investigados pela Justiça, o MPF denunciou Macedo e os outros três acusados ¿ Alba Maria Silva da Costa, diretora financeira; João Batista Ramos da Silva, bispo da igreja e ex-deputado federal; e o bispo Paulo Roberto Gomes da Conceição ¿ por estelionato e falsidade ideológica, o que foi rejeitado na esfera judicial. O MPF comunicou ontem que vai recorrer da decisão, para que os cinco crimes sejam levados em conta no processo.

A investigação do MPF identificou a existência de uma quadrilha ¿ chefiada por Macedo ¿ formada para lavar o dinheiro arrecadado dos fiéis. O período investigado vai de 1999 a 2005. Durante esses anos, o dinheiro teria sido remetido ilegalmente para os Estados Unidos com a colaboração de uma casa de câmbio de São Paulo. "O dinheiro era obtido por meio de oferecimento de falsas promessas e ameaças de que o socorro espiritual e econômico somente alcançaria aqueles que se sacrificassem economicamente pela igreja", afirma na denúncia o procurador da República Sílvio Luís Martins de Oliveira, autor das acusações.

Remessas O dinheiro teria sido destinado a empresas diversas, inclusive veículos de comunicação. A real proprietária dos empreendimentos, conforme a denúncia, é a Igreja Universal do Reino de Deus, o que seria ocultado por composições societárias diversas. Entre os anos de 2003 e 2006, a igreja declarou ter recebido mais de R$ 5 bilhões em doações. O valor, porém, pode ser bem maior, conforme depoimentos de testemunhas. Uma delas, um ex-diretor da igreja, declarou que os dízimos e as doações eram entregues diretamente na tesouraria da entidade. Do valor arrecadado, 10% era depositado na conta bancária da igreja. O restante teria sido recolhido por doleiros e remetido ao Uruguai e outros paraísos fiscais, segundo a testemunha.

O MPF diz ter confirmado a veracidade do depoimento. O dinheiro era reconvertido em moeda nacional, voltava ao Brasil e era aplicado na compra de meios de comunicação, segundo a denúncia. A investigação detectou transferências indiretas à TV Record, cuja cúpula é a mesma da igreja. Cinco bancos em Nova York, onde a igreja manteve contas correntes, receberam o dinheiro proveniente das doações e dízimos. A Igreja Universal do Reino de Deus sustenta que essa denúncia do MPF é a mesma acusação já feita aos dirigentes da instituição. Segundo a igreja, as acusações são inverídicas.