Reação do mercado é "agitação que passa", afirma Tombini

Leandra Peres

29/01/2016

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, indicou ontem com exclusividade ao Valor, que a política monetária ficará em compasso de espera por algum tempo, durante o qual estará sob avaliação uma eventual necessidade de subir a taxa de juros.

Segundo ele, até o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), em de março, provavelmente o cenário internacional não terá clareado o suficiente. Esse é, hoje, um dos componentes mais importantes na definição da estratégia de política monetária, segundo nota do comitê da semana passada.

Tombini reforçou a ideia de que as decisões do Copom, tomadas em cada encontro, serão "data dependent", sou seja, vinculadas à evolução dos dados e do cenário. "Cada reunião é uma reunião [diferente] e o BC levará em consideração todas as informações disponíveis até o momento da reunião".

O presidente do BC também indicou que o comitê está disposto a manter o sangue frio para tomar a decisão no momento adequado, apesar da forma negativa que a decisão de manter o juro básico em 14,25% ao ano na semana passada foi recebida pelo mercado.

As expectativas de inflação do mercado financeiro para 2017 subiram de 5,4% para 5,65% após a manutenção da taxa básica. A inflação implícita para os próximos anos subiu para perto de 20%.

Sorridente e tranquilo, Tombini conversou rapidamente com o Valor na saída da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, algo que ele raramente faz, ainda mais em dia em que o Copom divulga a sua ata. "Isso é agitação que passa", disse. O Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, veiculou a conversa no fim da tarde de ontem. Tombini não pareceu incomodado com as críticas e questionado se agitação nos mercados poderia passar rapidamente, ele reforçou o que havia dito que "essa é uma agitação que passa".

O presidente do BC deixava a reunião do Conselhão pelo segundo andar do Palácio do Planalto e vinha acompanhado de seu assessor de imprensa. A conversa acabou se estendendo até o elevador e o presidente do BC acabou tendo que voltar ao quarto andar do prédio, pois o elevador que tomara não dava acesso à garagem.

A decisão do Copom de não elevar a Selic na semana passada, depois de reiterados sinais de que se encaminhava para um aperto, foi recebida mal pelos mercados em parte porque foi interpretada como um sinal de possíveis pressões políticas da presidente Dilma Rousseff.

Esses comentários voltaram a ganhar força nos últimos dias depois que a presidente Dilma afirmou, em entrevista à "Folha de S. Paulo", que ela teria se reunido com Tombini e o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, na véspera do início da reunião do Copom. Ontem, havia um esforço do governo para mostrar que a presidente havia feito uma confusão de datas. O encontro, segundo essa versão, teria ocorrido na semana anterior, no dia 14, como preparação da viagem de Barbosa à reunião em Davos.

O BC, em conversas reservadas, tem procurado mostrar que o comportamento "dovish" dos principais bancos centrais nos ultimos dias - incluindo o Europeu, dos Estados Unidos e Japão - corrobora as preocupações com a economia mundial discutidas em 10 de janeiro e reuniões na Basileia.

 

Valor econômico, v. 16 , n. 3933, 29/01/2016. Finanças, p. C1