Título: Viajantes retêm gasto
Autor: Martins, Victor; Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/2011, Economia, p. 14

A alta de 15,45% acumulada em setembro pelo dólar já fez o turista brasileiro pisar no freio e segurar os gastos em viagens feitas ao exterior. O mês ainda não terminou, mas os dados coletados pelo Banco Central até ontem indicam uma queda de mais de 50% nas compras realizadas em outros países. Ao contrário de agosto, período no qual os viajantes gastaram US$ 1,9 bilhão em trechos internacionais, o desembolso até esta sexta-feira não passou dos US$ 969 milhões.

Para o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Túlio Maciel, o recuo ocorreu porque os viajantes já se deram conta de que a moeda norte-americana está valendo menos a pena. "Só a sazonalidade (o fato de setembro estar longe das férias de julho e de dezembro) não explica uma retração dessa magnitude", ponderou. Em agosto, o avanço da divisa não passou dos 2,68%, chegando a R$ 1,59 no fim do mês, o que atraía os turistas. Esta semana, porém, a cotação ultrapassou R$ 1,90, desestimulando as compras.

Essa variação pesa para quem já está em trânsito e para quem ainda planeja a viagem. Maciel disse que é normal que aqueles que estão na fase de preparação adiem a aquisição de dólares, enquanto quem já se encontra no exterior diminua os gastos.

Outro efeito da alta do dólar é o aumento das compras feitas com cartão de crédito. Até agosto, o percentual de gasto no exterior, nessa modalidade, cresceu. As transações desse tipo representavam 60,7% dos dispêndios em abril, antes de o governo elevar o IOF para essas operações de 2,38% para 6,38%. Em junho, o patamar caiu para 54%, mas, em agosto, já estava em 56,7%. A elevação ocorre porque nas compras com cartão, além do cliente ganhar tempo para pagar, ele aposta em um câmbio mais favorável no futuro, quando deverá pagar a fatura.

Em agosto, o deficit de viagens internacionais chegou a US$ 1,297 bilhão, resultado de despesas de US$ 1,903, feitas no exterior por brasileiros, e gastos de estrangeiros no país (receitas) de US$ 605 milhões. No acumulado do ano, até o mês passado, o saldo negativo ultrapassa US$ 9,8 bilhões.

Leonel Rossi Júnior, diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagens, afirmou que, por enquanto, o dólar não refletiu na redução da procura por pacotes no exterior. "O aumento do interesse, em sua maior parte, vem de consumidores que estão viajando pela primeira vez. Com a moeda mais cara, eles no máximo trocarão de destino", disse. (Colaborou Vânio Cristino)