O globo, n. 30048, 13/11/2015. País, p. 6

Justiça quebra sigilo de diretório do pt

 

Decisão abrange ligações telefônicas de 2010 a 2015 na sede de são paulo

Renato Onofre

renato.onofre@sp.oglobo.com.br

Telefonemas. João Vaccari ao lado de policiais: pente-fino em suas ligações

Ailton de Freitas

SÃO PAULO A Justiça Federal autorizou a quebra do sigilo telefônico do PT na ação que investiga o ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto. Com dados fornecidos entre julho de 2010 e julho de 2015, os investigadores tiveram acesso a todos os telefonemas feitos e recebidos por Vaccari e outros dirigentes petistas a partir do telefone da sede do Diretório Nacional do partido, em São Paulo.

Além da quebra do sigilo telefônico do partido, a Justiça autorizou interceptações de ligações feitas no Sindicato dos Bancários e de uma funcionária da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), ambos já presididos por Vaccari. A quebra ocorreu em setembro.

As quebras foram autorizadas na ação que investiga se a Gráfica Atitude, ligada à CUT e aos sindicatos dos Metalúrgicos do ABC e dos Bancários, teria sido usada para lavar dinheiro desviado da Petrobras. Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Augusto Mendonça, da Setal Óleo e Gás (SOG), um dos delatores do esquema de corrupção, afirmou que Vaccari pediu a ele pagamento de R$ 2,5 milhões à Atitude. Os pagamentos foram feitos mensalmente em 2010, 2011 e 2013.

Na delação, Mendonça diz que em algumas das vezes, "Renato Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobras) pediu ao colaborador que fosse conversar com João Vaccari para acertar a realização de doações oficiais". Os valores entrariam na cota do montante de propina prometida à Diretoria de Serviços, apontada nas investigações como a usada para abastecer os cofres do PT. O ex-tesoureiro teria pedido ao empresário que, "ao invés da realização de doações ao Partido dos Trabalhadores, contribuísse com pagamentos à editora Gráfica Atitude."

Propaganda ilícita para dilma

A editora Gráfica Atitude funciona no 19º andar de um prédio no Centro de São Paulo. A empresa é responsável pela publicação da "Revista do Brasil", do site "Rede Brasil Atual" e um programa de rádio. No mesmo local, funciona a redação de jornais de dois sindicatos. Em abril de 2012, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) multou a Atitude por fazer, em 2010, propaganda eleitoral considerada ilícita em favor da então candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.

A defesa de Vaccari contestou a medida. O criminalista Luiz Flávio D'Urso disse, em petição encaminha ao juiz Sérgio Moro, que o telefone é uma linha tronco do partido utilizada por muitas pessoas e, portanto, não pode ter seu sigilo violado: "Caso contrário, se estaria a autorizar uma devassa nas linhas telefônicas de um partido político".

"A quebra do sigilo telefônico envolvendo o Partido dos Trabalhadores, quando muito, deveria ser limitada àquela linha citada pelo delator, mais do que isso se constitui em afronta a direitos constitucionais e à própria Democracia".

Procurado pelo GLOBO, o PT disse que não se manifestará sobre a quebra do sigilo.