O globo, n. 30058, 23/11/2015. País, p. 5

Eleição terá recorde de prefeitos candidatos a novo mandato

Silvia Amorim - O Globo
 
SÃO PAULO - Em meio a um dos cenários eleitorais mais adversos dos últimos anos, o país deverá ter em 2016 um número recorde de prefeitos candidatos à reeleição. Ao menos nas capitais, estarão aptos a disputar um segundo mandato 22 dos 26 chefes de Executivo municipal. Nem mesmo com a derrocada dos índices de popularidade, que atormenta metade dos prefeitos avaliados até agora, há sinais de desistência. Na avaliação dos partidos, a situação ruim é generalizada e, assim, não há razão para planos alternativos.

Prefeitos só não poderão se lançar à reeleição no Rio de Janeiro, em Porto Alegre, em Goiânia e em Belo Horizonte. Nos demais estados, as negociações estão a pleno vapor. Desde a criação da reeleição, a disputa municipal com maior número de prefeitos concorrendo ao segundo mandato foi em 2008, quando 20 se candidataram. Em 2012, foram apenas oito.

Para boa parte dos candidatos ao segundo mandato nas capitais em 2016, o cenário eleitoral se mostra pouco favorável. Nas capitais que tiveram pesquisas divulgadas nos últimos meses, metade dos prefeitos está com baixo índice de aprovação ou fraco desempenho nas sondagens. São Paulo é o exemplo mais visível dessa baixa aceitação dos atuais governantes, mas ele se repete também em Florianópolis, Fortaleza, Curitiba, São Luís, Belém, Teresina e Porto Velho. A situação atinge indiscriminadamente políticos de todos os grandes partidos (PT, PSDB, PMDB e PSB).

Estão em condições um pouco melhor os prefeitos de Salvador, Recife, Vitória, Manaus, Maceió, Cuiabá, João Pessoa, Natal e Aracaju. O GLOBO não encontrou levantamentos eleitorais, ou de avaliação de gestão, em Campo Grande, Boa Vista, Palmas, Rio Branco e Macapá.

No grupo dos que não podem mais se reeleger, o cenário também não está fácil. Nenhum prefeito tem seu candidato à sucessão como favorito nas sondagens até agora. No Rio, um ingrediente a mais está aumentando as incertezas sobre o quadro eleitoral de 2016. O secretário de Governo, Pedro Paulo Carvalho (PMDB), está envolvido em casos de agressão à ex-mulher.

Os partidos estão convencidos de que a eleição de 2016 será diferente de tudo o que foi experimentado até agora nessa matéria. Da crise econômica, que, segundo projeções, levará a mais um ano de dificuldades, às novidades do sistema eleitoral, passando pela crise de credibilidade das instituições, muitos fatores externos à disputa entre candidatos propriamente dita tendem a contaminar o debate eleitoral.

— O problema que existe para nós existe para os outros também. Isso é igual a jogo de futebol. Quando o campo é ruim, ele é ruim para todo mundo. Não existe no PT esse debate de não ir para a reeleição — afirma o secretário de Organização Nacional petista, Florisvaldo Souza.

— Hoje não tem prefeito nenhum no Brasil que esteja bem. A situação está crítica e continuará. O cenário de dificuldades é generalizado, mas as pesquisas têm indicado que o PT vai perder muito mais. Então, de certa forma, isso nos ameaça menos — disse o secretário-geral nacional do PSDB, Silvio Torres.

‘CENÁRIO POUCO FAVORÁVEL A REELEIÇÕES’

Para o cientista político da PUC-Rio Eduardo Raposo, a onda de insatisfação popular marcará o comportamento do eleitorado em 2016, e isso se traduzirá num clima desfavorável a reeleições.

— Esse cenário que temos colocado para 2016 é muito pouco favorável a reeleições. Essa dificuldade generalizada mostra que a insatisfação é geral e que eles (os prefeitos), por estarem no poder, vão carregar o ônus de serem situação. Uma das maiores reclamações da população, que ficaram evidentes nos protestos de 2013, é a insatisfação com os serviços públicos. Os prefeitos são os titulares do poder mais próximos do povo. Existe um acúmulo extraordinário de insatisfação, e isso vai desembocar em 2016 — avaliou Raposo.

Fora a crise politica e econômica, 2016 terá ainda o desafio de testar regras novas para o processo eleitoral, como campanhas mais curtas e restritivas e o fim das doações por empresas. As mudanças têm gerado preocupação nos partidos. O PSDB marcou para o início de dezembro a análise de um relatório que está sendo elaborado por deputados sobre a situação das candidaturas do partido nas cidades com mais de cem mil habitantes em todo o país. A ideia é, a partir do levantamento, definir estratégias e resolver eventuais impasses.

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Picciani: nenhum nome é definitivo

Marcelo Remigio - O Globo

O presidente estadual do PMDB no Rio, deputado Jorge Picciani, lançou ontem um alerta em relação à candidatura à prefeitura do Rio do secretário municipal de Governo, Pedro Paulo Carvalho (PMDB). De acordo com Picciani, neste momento, Pedro Paulo permanece na disputa, e o partido não teria uma segunda opção de nome ou um plano B. No entanto, a legenda vai acompanhar, com pesquisas, a reação dos episódios de agressão à ex-mulher protagonizados pelo peemedebista. Para Picciani, nenhuma candidatura é definitiva até que seja oficializada.

— O partido hoje tem um candidato a prefeito, que é o secretário municipal do Governo, Pedro Paulo. Não estamos estudando outro nome e não temos um plano B. Mas o PMDB respeita a população. Até o lançamento da candidatura, vamos avaliar a reação dela — afirmou Picciani. — A partir desse acompanhamento, o secretário Pedro Paulo vai ter de avaliar sua candidatura e o partido, também. Nenhuma candidatura é definitiva no processo eleitoral. O PMDB precisa de um nome que una o partido. Atualmente, Pedro Paulo é quem une.
A ex-mulher de Pedro Paulo, Alexandra Marcondes, procurou por três vezes a delegacia para acusar o ex-marido de agressão e ameaças diárias. O caso acabou respingando na candidatura do secretário à sucessão do prefeito Eduardo Paes. O nome de Pedro Paulo, que já encontrava resistência em algumas correntes do PMDB-RJ, passou a ser reprovado também por alguns caciques nacionais da legenda. Para integrantes da Executiva Nacional, a candidatura é insustentável, e os episódios de agressão serviriam de munição para os adversários.

PMDB promove convenção

Ontem, durante a entrega do campo de golfe olímpico, na Barra da Tijuca, Paes defendeu novamente o nome de Pedro Paulo para sua sucessão.

— Não tenho mais nada a falar sobre esse assunto. O meu candidato a prefeito é o secretário Pedro Paulo. A prefeitura já tem vários problemas na Secretaria da Mulher. E eu não comento mais nada sobre isso —, disse Paes, que participou da solenidade ao lado de Pedro Paulo.

O PMDB estadual se reúne hoje durante a convenção que vai eleger o novo diretório fluminense, os 48 delegados para a convenção nacional e a Comissão de Ética do estado. Jorge Picciani deverá ser reconduzido ao cargo de presidente.

— O caso Pedro Paulo vai ser tratado hoje pela cúpula do partido a portas fechadas. Será assunto para Picciani e o exgovernador Sérgio Cabral discutirem. As opiniões deles são as que mais pesam. O caso de agressão à ex-mulher é um complicador para Pedro Paulo — afirmou um peemedebista do diretório estadual. 

(Colaborou Leandro Saudino)