Título: Um novo estilo na forma de se comunicar
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 25/09/2011, Política, p. 8

Nova York ¿ Mal Dilma embarcou para o Brasil, na quinta-feira, os diplomatas brasileiros residentes em Nova York tinham o veredicto: O governo pode até ser de continuidade, mas o estilo mudou. E muito. A forma de discursar em eventos multilaterais foi considerada mais contundente e direta. Sem meias-palavras ou expressões suaves para problemas sérios ¿ inversamente oposto àquelas que os diplomatas preferem.

Do primeiro ao último evento, Dilma foi sempre contundente. Ela não "dourou a pílula" ao pregar a destruição das armas nucleares ¿ o último discurso da viagem ¿, tampouco na frente de uma gama de chefes de estado de países ricos. Ao abrir a Assembleia das Nações Unidas, acusou-os de "falta de clareza de ideias" para resolver a crise econômica e não falou apenas do lado positivo da economia brasileira.

A forma de lidar com o tempo livre, entretanto, mudou pouco. Alguns presidentes avisam quando saem para passear ou almoçar. Dilma, não. Em Nova York, deixou o serviço secreto em pânico. Os agentes, que até então não tinham acompanhado a presidente em nenhuma viagem onde ela tivesse tempo e condições de andar na rua, ficaram atônitos. Afinal, na China ela não teve um dia livre sequer e as saídas eram apenas para compromissos oficiais, incluindo a visita à Cidade Proibida, em Pequim, e aos guerreiros de terracota, em Xi"An, onde os turistas foram retirados para que ela pudesse circular em segurança com sua comitiva. Na Argentina, no Peru e em outras oportunidades, não houve tempo para passeios.

Porta lateral Mas, em Nova York, quando ela avisou ao motorista que iria ao Metropolitan no domingo passado, foi um susto. Primeiro, os americanos tentaram intervir, dizendo que não era aconselhável um presidente circular pelas ruas. O serviço secreto brasileiro concordou. Mas Dilma bateu o pé e determinou ao general Amaro, chefe da segurança, que cuidasse da operação e que alguns ministros a ajudassem a driblar a imprensa. Ela despistou os jornalistas saindo por uma porta lateral.

Deu tudo certo até que, no último dia, assim que chegou ao Museu de Arte Moderna (MoMA), Dilma encontrou um grupo de jornalistas. Mal colocou os olhos nos repórteres, deu meia-volta. Antes de sair, entretanto, posou para fotos ao lado de turistas. E o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, não perdeu a chance de perguntar de onde era o casal que passeava com uma filha. Quando ouviu a resposta "de São Paulo", abriu um sorriso.

Depois das fotos, Dilma se dirigiu para a porta do museu. "Vocês não sabem o que passei na França. Quase fui expulsa do museu", contou, referindo-se a um episódio da campanha, no ano passado, quando foi acompanhada por uma batalhão de cinegrafistas e fotógrafos. É uma experiência que Dilma não pretende repetir. Agora, se for para caminhar sozinha, com alguns assessores, ela estará pronta. Afinal, para um presidente da República, poder andar nas ruas, seja dentro ou fora do Brasil, não tem preço. (DR)

"Marolinha" A sinceridade foi a marca das declarações de Dilma ao comentar o cenário econômico, especialmente ao reconhecer que, no caso do Brasil, a "capacidade de resistência à crise não é ilimitada". Para muitos diplomatas, o discurso oficial representou uma mudança em relação ao antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2008, quando o governo federal garantia que o Brasil não seria afetado, Lula disse que, se fosse, seria apenas uma "marolinha".