Título: Doadores escondidos
Autor: Maakaroun, Bertha
Fonte: Correio Braziliense, 26/09/2011, Política, p. 4
Brecha legal que permite ocultar a identificação dos financiadores de campanha transforma partidos políticos em canal para o setor privado favorecer candidatos » Bertha Maakaroun
O forte cerco da fiscalização eleitoral sobre o financiamento de campanha e a maior exposição de doadores privados tornaram os partidos políticos, ao longo dos últimos oito anos, o mais atraente canal para ocultar doações. Levantamento realizado pelo pesquisador e cientista político Mauro Macedo Campos nas prestações de contas apresentadas por partidos políticos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 1998 e 2010 indica que, entre as eleições de 2002 e as de 2010, as doações privadas aos diretórios nacionais cresceram 1.635%, saltando de R$ 31,67 milhões para R$ 549,53 milhões.
A mudança do comportamento dos grandes doadores de campanha se tornou mais visível a partir das eleições de 2006, pós-escândalo do mensalão. Com o foco sobre o caixa 2, o setor privado buscou na legislação eleitoral mecanismos para investir nas campanhas sem aparecer.
Crescimento Naquele pleito, as doações do setor privado aos diretórios nacionais foram de R$ 98,15 milhões, um crescimento de 210% em relação às eleições gerais de 2002. As eleições municipais de 2008 reforçaram essa tendência. As doações do setor privado aos diretórios nacionais alcançaram R$ 184,15 milhões ¿ 87,6% a mais em relação às eleições gerais de 2006. Em 2010, o investimento nos diretórios nacionais explodiu, alcançando a cifra inédita de R$ 549,529 milhões.
As limitações colocadas para as doações às legendas, contudo, mantiveram aos partidos o direito de repassar recursos aos candidatos sem fazer a identificação direta do doador. Não à toa, o caixa dos diretórios nacionais se encheu: as doações feitas a eles representaram um terço do R$ 1,4 bilhão dos gastos de campanha para presidente da República, senadores e deputados federais.
Concentração Esses recursos injetados pelo setor privado nas campanhas políticas via partidos não são pulverizadas entre as quase 30 legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como apontou o cientista político Mauro Macedo Campos. Muito antes pelo contrário, estão concentradas nas legendas mais competitivas.
Dos R$ 549,53 milhões de doações aos diretórios nacionais em 2010, 75% ¿ R$ 412,93 milhões ¿ foram destinados ao PV e às coligações PT-PMDB e PSDB-DEM, nas campanhas eleitorais por cargos do Executivo. "O setor privado investe segundo o grau de competitividade dos partidos e candidatos", considerou Campos.