Título: Mercado projeta índice menor
Autor: Dinardo, Ana Carolina; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 26/09/2011, Economia, p. 8

Passada a surpresa da queda de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em agosto, os agentes do mercado começam a mudar de discurso. Discretamente, admitem que o Banco Central está no caminho certo. O ideal para uma economia civilizada, dizem, seria manter o juro real, descontada a inflação, em 2% ao ano. Isso significa que a taxa deveria estar, no máximo, em 8,5%, para uma expectativa de inflação de 6,5% ¿ o teto da meta perseguida pelo governo. "Mas, para chegar aí, o país teria que elevar a taxa de investimento de 19% para 25% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todas as riquezas produzidas no país)", argumenta Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios.

Após as duras críticas que recebeu do mercado por cortar os juros de forma abrupta em agosto, o BC terá à frente, aos olhos dos economistas do Banco Morgan Stanley, um novo conjunto de desafios. "Concordamos que o Brasil necessita de menores taxas de juros. Mas um movimento muito rápido poderia complicar ainda mais a intenção de alcançar sua meta de inflação de 4,5%", pondera a instituição. Em suas projeções, o Morgan vê a Selic em 11,5% ao fim de 2012, contra 12,5% da estimativa inicial.

Direção Depois de ter sido enxovalhado, no início do ano, ao aumentar os juros em doses homeopáticas num momento que a inflação em alta exigia uma ação mais enérgica, a autoridade monetária passou a enfrentar o tiroteio, em setembro, dos que consideraram inesperado o corte realizado em 31 de agosto ¿ na ocasião, a redução de 0,50 ponto percentual foi vista como uma submissão do BC aos interesses do Palácio do Planalto.

José Góes, analista econômico da WinTrade, prevê que, num horizonte de curto prazo, a inflação chegará aos 7% e os juros devem cair para 9% ao ano. "Só que, a partir de agora, depois da surpresa da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), as quedas serão mais lentas", aposta. Já para o professor da Trevisan, o espanto do mercado com o corte de juros foi mal interpretado. "Na verdade, nenhum agente torce por juros altos. Eles vão para cima para controlar a inflação. O que os analistas querem é uma sinalização clara do BC e não aquele comportamento de mudança brusca de direção, cuja lógica ninguém entendeu", pondera Leite. (ACD e VB)