Manifestantes vão às ruas por impeachment

Marcella fernandes 

123/12/2015

Vista como um termômetro essencial para medir o humor da população em relação ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, as manifestações de rua contrárias e favoráveis ao afastamento da petista começarão a partir de hoje, com os protestos pró-impeachment. Para quarta-feira,  estão previstos atos daqueles que apoiam a manutenção da presidente. A página do Vem para Rua no Facebook foi bloqueada ontem por quatro horas, após denúncia de conteúdo impróprio. O movimento classificou o episódio como “injusto”.
 
Em Brasília, a expectativa dos organizadores é de que o ato do fim de semana reúna 25 mil pessoas, mesmo contingente que em abril e menos do que os 50 mil de março. Há protestos marcados em pelo menos outras 30 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Fortaleza, organizados pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Revoltados Online e Vem Pra Rua, principalmente.
 
Na avaliação do mestre em ciência política Lucas de Aragão, a pressão popular será um fator chave, especialmente devido ao agravamento da crise econômica e ao envolvimento do governo em escândalos de corrupção, como os desvios na Petrobras. Além das pedaladas fiscais, motivo de fundamentação do pedido de impeachment, os movimentos usam outros argumentos para pedir a saída da petista. “A campanha foi feita com dinheiro fraudulento do petrolão”, diz Renan Ferreira, um dos coordenadores do MBL. A acusação faz parte da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa nas investigações de desvios da Petrobras.
 
Afastamento
Por outro lado, com a deflagração do processo de afastamento de Dilma, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava-Jato, não é alvo prioritário do grupo. “Agora o foco é no impeachment”, justifica Renan. Para o cientista político Claudio Couto, da Fundação Getulio Vargas (FGV), essa é a principal fragilidade dos movimentos contra o governo. “É muito contraditório defender o impeachment por um processo fiscal e ao mesmo tempo não defender o afastamento do chefe de um poder contra quem as evidências de corrupção são numerosas. É uma ética seletiva”, afirma.
 
A mesma ambiguidade atinge os movimentos de defesa de Dilma, porque defendem e atacam o governo ao mesmo tempo, uma vez que permanece o descontentamento ideológico com medidas tomadas desde o início do ano. Nas manifestações marcadas para o próximo dia 16, pela Frente Brasil Popular e pela Frente Povo Sem Medo, além da permanência da petista e da crítica a Cunha, a defesa de uma nova política econômica é outra bandeira.  “A gente está vigiando para que não haja cortes na educação”, afirma a presidente da UNE, Carina Vitral.  “Mas vamos para as ruas em defesa da democracia porque seria um golpe sem precedentes”, defende.
 
 
Povo fala
 
VOCÊ É A FAVOR DO IMPEACHMENT DA PRESIDENTE DILMA ROUSSEFF?
 
Hichemm Khalyd, 21 anos, estudante
 
“As políticas públicas que ela fez levaram o país a uma recessão profunda. A transição do governo de FHC para o do Lula trouxe algumas políticas que foram interessantes para o país, mas a Dilma é outro extremo. Ela não conseguirá encerrar mandato com 10% de popularidade”
 
Gustavo Amorim, 19 anos, estudante
 
“O governo do PT está sendo ruim para a elite. Eu acredito muito no que o PT tem feito e na visibilidade que eles têm dado às minorias e às classes mais baixas, inclusive no mandato da Dilma. Essa postura forte dela me faz acreditar que ela consiga contornar 
isso também”
 
Talles Alves, 25 anos, fisioterapeuta
 
“Não sou petista, partidário, nem favorável ao governo que está sendo ministrado. Mas acho errado usar o impeachment como um golpe que foi acatado por uma pessoa que deve muito mais do que a própria presidente. Essa não é a forma certa de se arrumar o país.”
 
Elton João, 48 anos, PM
 
“Sou totalmente a favor do impeachment da Dilma. O país está um caos com essa situação. As alegações de defesa dela estão embasadas na falta de provas que nós sabemos que são reais. Hoje, o PT é um partido totalmente diferente dos tempos de oposição”
 
Correio braziliense, n. 19193 , 13/12/2015. Política, p. 4