O Estado de São Paulo, n. 44608, 05/12/2015. Política, p. A4

Aliado de Temer, Padilha deixa gestão Dilma e preocupa Palácio do Planalto

Um dos principais aliados do vice­presidente da República, Michel Temer (PMDB), o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, vai deixar o governo e pode dar início à saída de mais integrantes do PMDB na Esplanada. Após Padilha comunicara decisão à cúpula da legenda e protocolar carta de demissão na Casa Civil, peemedebistas passaram a pressionar o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB­RN), a deixar o cargo. Alves também é ligado a Temer e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB­RJ), responsável por dar início ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Surpreendido com o pedido de demissão, o Palácio do Planalto pôs em curso uma operação para jogar água na fervura da nova crise política. Padilha é o ministro mais ligado ao vice­presidente Michel Temer e o anúncio de sua saída, logo após a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma, foi interpretado no governo como o primeiro passo para o descolamento do vice e o futuro desembarque do PMDB. O assunto foi discutido ontem em reunião de Dilma com ministros no Palácio da Alvorada. Dois dias após Cunha aceitar o pedido de impeachment de Dilma, o governo mostrou preocupação como comportamento do principal aliado, que controla sete dos 31 ministérios. “A maior liderança do PMDB é o vicepresidente Michel Temer e ele vai trabalhar para unificar o partido, que, depois do PT, é o que tem maior número de ministérios e possui papel fundamental na governabilidade”, afirmou ao Estado o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. “O governo tem clareza da importância do vicepresidente. Ele sempre assumiu tarefas na construção da governabilidade e penso que agora não será diferente”, disse Edinho. A situação de Padilha, segundo aliados, era considerada “desconfortável” desde que Temer foi afastado da articulação política do governo no meio do ano. Padilha acumulou a Aviação Civil com a articulação política do governo de abril a setembro. Distanciamento. Integrante da Executiva Nacional do PMDB, o ex­ministro Geddel Vieira Lima apelou pela saída de Alves: “Amigo Henrique EAlves, agora é hora de gente que construiu toda sua bela história no PMDB não permitir que constranjam nosso partido. Viva Eliseu Padilha”, escreveu nas redes sociais. Em outro recado do distanciamento do Planalto, o grupo de Temer não deve reivindicar o posto deixado por Padilha. A iniciativa de Padilha no momento em que o Planalto precisa de apoio para enfrentar o processo de impeachment revela, na análise de integrantes da cúpula do PMDB do Congresso, as “digitais” de Temera favor do afastamento da presidente. Entre peemedebistas pró­Dilma, cresce o sentimento de que Temer atua nos bastidores em parceria com Cunha. Para eles, essa atuação ocorreria, porém, com objetivos distintos. Cunha quer “embaralhar” o jogo para tentar sobreviver ao processo porque brade decoro que enfrenta no Conselho de Ética da Câmara. Já o grupo de Temer aproveitaria o início do processo de impeachment para, nos bastidores, pressionar pelo avanço das discussões na comissão do impeachment. Indicados pela bancada do partido na Câmara, os ministros Marcelo Castro(Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) deverão,porém, ser“poupados” dos pedidos de desembarque pelos colegas. Interlocutores de Dilma telefonaram ontem para o líder do PMDB na Casa, Leonardo Picciani (RJ), para saber a disposição dos dois ministros indicados pela bancada. Com a garantia de Picciani de que tudo estava sob controle, um auxiliar de Dilma afirmou que não haveria debandada no PMDB. Mesmo sabendo que se trata de difícil missão, o Planalto tenta atrair Temer, que é presidente do PMDB e advogado constitucionalista,para a defesa jurídica contra o impeachment. O vice, porém, não participou nem mesmo da reunião de Dilma com 23 ministros,na quinta­feira. Nos bastidores, amigos de Temer disseram que Dilma e ele continuam distantes e desmentiram qualquer ajuda jurídica de Temer...