O Estado de São Paulo, n. 44608, 05/12/2015. Economia, p. B2

Comércio exterior cai, mas mesmo assim ajuda o PIB

A balança comercial registrou superávit de quase US$ 1,2 bilhão em novembro e de US$ 13,4 bilhões no ano, ante déficit de US$ 4,3 bilhões em igual período de 2014. O comércio está, portanto, ajudando a melhorar a conta corrente do balanço de pagamentos em US$ 17,7 bilhões entre 2014 e 2015.

O resultado decorre da queda de importações mais forte que a de exportações. As compras no exterior caíram US$ 51 bilhões nos primeiros 11 meses de 2014 e de 2015, de US$ 211,9 bilhões para US$ 160,9 bilhões. Em novembro, a média de importações foi de US$ 630 milhões por dia útil, 10,6% abaixo da média anual.

Ao mesmo tempo, as exportações em 11 meses caíram US$ 33,2 bilhões, de US$ 207,6 bilhões para US$ 174,3 bilhões (-14,9%). A média por dia útil, de US$ 690 milhões em novembro, também foi fraca.

Há um paradoxo nas contas do comércio exterior: nem um fato negativo – a queda da corrente de comércio (soma de exportações e importações) – evitou que o comércio exterior se transformasse em ponto positivo para o PIB. Motivo: as exportações entram como acréscimo no cálculo do PIB e as importações, como decréscimo. Com a queda das compras no exterior de 23,1% entre janeiro e novembro de 2015, em relação a igual período de 2014, o setor externo evitou uma queda maior do PIB.

A corrente de comércio do Brasil diminuiu 19% entre 2014 e 2015, de US$ 419,6 bilhões para US$ 335,3 bilhões. É lamentável, pois a corrente de comércio indica o grau de abertura da economia – o acesso de exportadores ao mercado global e o ingresso de bens importados que competem com os produtos locais.

Os benefícios da desvalorização do real ainda são tímidos para as exportações de manufaturados e semimanufaturados. Estas já superam as de itens primários na pauta do comércio exterior, mas isso se deve à queda aguda dos preços das commodities: as vendas de minério de ferro caíram US$ 11 bilhões em relação a 2014; do petróleo em bruto, US$ 4 bilhões; e da soja em grão e farelo, US$ 3,6 bilhões. As vendas de motores para veículos, autopeças, açúcar refinado, óleos combustíveis, máquinas para terraplenagem e bombas e compressores também caíram.

É provável que o câmbio, aos poucos, ajude mais a indústria a exportar. Mas isso não basta. O País precisa repensar a inserção da indústria na economia global, alerta o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn.