Título: Resgate da confiança
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2011, Economia, p. 10
Com a credibilidade arranhada, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, vai usar hoje, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, todo o seu repertório para tentar resgatar a confiança perante o mercado. Tombini pretende reafirmar o discurso de que, até dezembro, a inflação recuará para os 6,5% do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Abordará também o cenário externo e os efeitos sobre os preços e a atividade no Brasil. Deve revisar ainda a taxa de crescimento do país de 4% para 3,5%, sob a justificativa de que as influências internacionais afetarão o desempenho brasileiro e que, não fosse o corte nos juros básicos (Selic) de 12,5% para 12% ao ano, o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) seria ainda pior.
Mas para restabelecer a fé do mercado na condução da política monetária, Tombini terá de se desdobrar. O boletim semanal Focus ¿ no qual o BC reúne as expectativas de mais de 100 analistas financeiros ¿ trouxe, ontem, um duro recado à autoridade monetária: ninguém mais acredita no discurso da instituição. A despeito do que o BC vem dizendo, o mercado não está levando a sério a possibilidade de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuar nos próximos meses. Tanto o é que, pela primeira vez na história, as projeções estouraram o teto da meta de inflação e a fixaram em 6,52% em 2011.
"Não estamos colocando nada a mais na conta, apenas os indicadores econômicos oficiais. Essa expectativa de o IPCA chegar a 6,52% ao fim de 2011 não é culpa do mercado, mas do governo", afirmou Jason Vieira, economista da Corretora Cruzeiro do Sul. Preocupado em concentrar as atenções em torno do que tem a falar, Tombini até adiou da manhã para a tarde de hoje uma entrevista do chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, para explicar a situação do crédito no país. (VM)