Começa alta de juro nos EUA

Alessandra Azevedo 

17/12/2015

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, aumentou em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, o que terá impacto em todo o mundo, sobretudo nos países emergentes dependentes de fluxos de capitais, como o Brasil. A taxa, que vinha variando entre zero e 0,25% ao ano, passará a oscilar entre 0,25% e 0,50% ao ano. Foi a primeira alta dos juros na maior economia do planeta em mais de nove anos, e novos ajustes devem ser feitos gradualmente ao longo de 2016. 

Para o Brasil, o aumento dos juros no EUA ocorre em momento complicado. Há uma desconfiança generalizada em relação ao país, que ontem foi rebaixado pela agência Fitch. Como duas das três maiores agências de classificação de risco retiraram o selo de bom pagador do país - a outra foi a Standard & Poor's (S&P), em setembro -, há uma forte ameaça de fuga de capitais da economia brasileira. 

A preocupação é que, com a melhor remuneração criada após o aumento dos juros, os títulos norte-americanos atrairão recursos aplicados nos países emergentes, de maior risco, o que provocará elevação das cotações do dólar. Desde 2013, a cotação da divisa no Brasil quase dobrou, passando de pouco mais de R$ 2 para quase R$ 4, pressionando a inflação. 

Para muitos analistas, no entanto, se o Fed mantiver a estratégia de alta gradual, os impactos poderão ser reduzidos, afetando mais o mercado de câmbio do que ativos como ações e títulos. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, destacou que a questão-chave será a intensidade do ajuste. Se ele não for tão acentuado, o efeito poderá ser absorvido mais facilmente. Nos EUA, a expectativa dos economistas é de que a taxa chegará a 1,375% ao ano no fim de 2016, um patamar visto como moderado. 

Cautela 
A alta de juros vem sendo esperada desde 2013. Mas o Fed só tomou a decisão depois de se certificar de que a recuperação da economia dos EUA realmente é consistente. A presidente da instituição, Janet Yellen, disse que a elevação "marca o fim de um período extraordinário de sete anos no qual os juros foram mantidos perto de zero para apoiar a recuperação da economia da pior crise financeira e da pior recessão desde a Grande Depressão". O BC dos EUA havia cortado os juros para perto de zero na crise de 2008 e, desde então, não havia mudado a política monetária. 

A decisão unânime do Fed. foi precedida por uma série de indicadores econômicos positivos, como a criação de 211 mil postos de trabalho em novembro e a manutenção da taxa de desemprego em 5%, próxima da média histórica de 4,5% anterior à crise. 

Yellen ponderou que "alguma fraqueza no mercado de trabalho ainda permanece" e que, por isso, as altas futuras dependerão de como economia irá se comportar. A visão geral é que as "condições da atividade dos EUA continuarão melhorando". O Fed prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA crescerá 2,1% neste ano e 2,4% em 2016. 

 

Correio braziliense, n. 19197, 17/12/2015. Economia, p. 13