Trabalhador fica mais pobre

Celia Perrone 

18/12/2015

O rendimento médio real do trabalhador registrou um tombo em novembro de 8,8% frente ao mesmo período do ano passado. O valor ficou em R$ 2.177,20. Foi a maior queda anual desde 2003. Na comparação com outubro, caiu 1,3%. O dado foi divulgado ontem na Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
A queda de salários está disseminada. Nos sete ramos de atividade pesquisados, houve perda, com destaque para indústria (-12,5%), serviços prestados às empresas (-12,1%) e construção (-11,9%). O rendimento também ficou menor nas seis regiões metropolitanas do levantamento. O Rio de Janeiro liderou com perda de 10%, seguido por São Paulo, - 9,5%; Recife, -7,8%; Salvador, -8%; Belo Horizonte, -7,7%; e Porto Alegre, -6,3%. 
As perdas salariais estão diretamente relacionadas com a taxa de desemprego, que em novembro atingiu 7,5% - o mais alto para o mês em sete anos, quando em 2008 atingiu 7,6%. No ano passado, esse índice era de 4,8%. Isso porque, com dificuldades financeiras, muitos trabalhadores resolveram voltar a procurar trabalho ou saíram em busca do primeiro emprego. No mês passado, 1,8 milhão de pessoas estavam a procura de uma vaga, um crescimento de 53,8% em relação a 2014. "Mais de meio milhão de pessoas entraram na condição de desocupadas na comparação com o ano passado", explicou Adriana Beringuy, técnica da PME. 
Em relação a outubro, quando a taxa de desemprego atingiu 7,9%, ocorreu uma interrupção da trajetória de alta. "Houve de fato uma inflexão na comparação mensal, mas foi pequena. Geralmente as taxas tendem a ser mais baixas nesta época, isso já foi verificado em outros anos", garantiu. 

O número de pessoas ocupadas ficou estável em 22,5 milhões na relação com outubro, mas 3,7% inferior ao total de novembro do ano passado. O setor privado manteve os mesmos 11,3 milhões com carteira assinada nos dois últimos meses, mas o número de postos recuou 4,6% ante novembro de 2014. 
A recepcionista Kelly Moraes Santana, 24 anos, é um exemplo dos efeitos perversos da crise econômica e do consequente aumento do desemprego e queda de rendimentos. Ela está há quatro meses procurando uma colocação. No antigo posto recebia um salário de R$ 1,2 mil. "Agora não consigo encontrar um lugar que pague mais que R$ 1 mil", contou. Os irmãos dela, de 18 e 27 anos, também estão na batalha por uma vaga com carteira assinada. "A sorte é que meu pai trabalha no mesmo lugar há mais de 20 anos, mas está duro para ele manter a família", afirmou. 
A dificuldade do pai de Kelly pode ser comprovada na pesquisa do IBGE, quando se analisa a massa real de salários: o recuo foi de 2,3%, após a queda de 2,2% em outubro. Mas, na comparação com o mesmo período do ano passado, a contração chegou a 12,2%. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, observa que o resultado é devido a dois fatores: "a queda na massa salarial é explicada pelo baque de 8,8% do rendimento médio habitualmente recebido, associado à redução da população ocupada de 3,7% no mesmo período", disse. 
Na análise de Gonçalves, o cenário indica piora no mercado de trabalho. "A massa de rendimentos segue na contração. Além disso, a desocupação deve atingir logo 8%. Não é improvável chegar a algum valor perto dos dois dígitos já no ano que vem", previu.

Correio braziliense, n. 19198, 18/12/2015. Economia, p. 10