Título: À busca de parceiros
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2011, Mundo, p. 16

Retórica à parte, nem palestinos nem israelenses acreditam que sejam incompatíveis o pedido de admissão da Palestina na ONU e a retomada de negociações de paz. Daí a naturalidade com que a proposta de última hora do Quarteto foi aceita por ambas as partes. A dificuldade para passar das intenções aos fatos, no que diz respeito ao diálogo, é a questão sobre quem conversará com quem.

Muito sintomático que o Nobel da Paz Shimon Peres, último sobrevivente entre os "pais" dos Acordos de Oslo e atual presidente de Israel, exalte o colega palestino, Mahmud Abbas, como "o melhor parceiro" para relançar o processo de paz. Abbas, como recíproca, menciona Peres entre os interlocutores possíveis, ao lado dos últimos chefes de governo israelense ¿ mas, igualmente sintomático, não cita o atual, Benjamin Netanyahu, nem seu chanceler, Avigdor Lieberman.

Ambos os lados, invariavelmente, localizam o obstáculo no campo oposto. Netanyahu terá sempre como pretexto o Hamas, esteja ele na oposição a Abbas ou coligado a ele. E, ao fazê-lo, o premiê se desqualifica como opção para levar à prática a "solução de dois Estados", que uns e outros ratificam ¿ desde que não tenhan de dar os passos exigidos para tirá-la do papel.