Título: Ensaio de reconciliação
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 27/09/2011, Mundo, p. 16

Enquanto vivem a expectativa pelo reconhecimento externo de seu Estado, os dois partidos que dividem o controle dos territórios palestinos ¿ o nacionalista Fatah governa a Cisjordânia e o islamista Hamas, a Faixa de Gaza ¿ ensaiam uma reaproximação. Ontem, o coordenador da equipe responsável pelas negociações no Fatah, Azzam Al-Ahmad, afirmou que as duas facções devem se encontrar no Cairo, no início de outubro, para discutir a retomada de um acordo selado em maio, após quatro anos de enfrentamento, mas ainda não implementado. O primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, por sua vez, conclamou os rivais a um "diálogo estratégico" para a estabilização da Palestina.

Al-Ahmad declarou que o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, líder do Fatah, tem se empenhado nos esforços por uma aliança após seu retorno de Nova York, onde discursou para a Assembleia Geral da ONU e formalizou o pedido de ingresso da Palestina como membro pleno do organismo. Líderes do Hamas têm dito que não foram consultados sobre a decisão, que eles consideram "sem substância", por não determinar um resultado concreto para o fim da ocupação israelense. Mas, embora tenha criticado também o reconhecimento implícito de Israel, o Hamas não criou impedimentos para que o pedido de adesão fosse feito.

Ao contrário do que foi visto na Cisjordânia, as autoridades do grupo islâmico da Faixa de Gaza baniram os protestos de apoio à iniciativa na ONU. Mesmo assim, dezenas de mulheres desafiaram a proibição e foram para as ruas em manifestações pacíficas. "Não somos contra o Estado, mas discordamos dessa iniciativa", explicou Haniyeh. "A causa palestina é a causa de uma nação, e seus defensores não devem enfrentar sozinhos as políticas norte-americanas e sionistas. Devemos investir no renascimento da nação para fortalecer nossas posições."

Hamas e Fatah assinaram em maio, também no Cairo, um acordo que previa a formação de um governo de transição, composto por tecnocratas, para pôr fim à disputa que culminou com a conquista de Gaza pelos islamistas, em 2007. Até então, as duas facções integravam uma coalizão que governava a AP, mas entraram em confronto militar quando Abbas dissolveu o governo e destituiu o premiê, Ismail Haniyeh, até hoje reconhecido em Gaza. A tentativa de reaproximação, porém, não evoluiu diante da recusa do Hamas em aceitar o atual chefe de governo do Fatah, Salam Fayyad, para comandar o governo provisório.