Nívea Ribeiro
09/12/2015
O Ministério da Saúde investiga a morte de 19 recém-nascidos com suspeita de microcefalia e infecção pelo vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti e responsável pelo surto. Foram registrados sete óbitos no Rio Grande do Norte; quatro em Sergipe; dois no Rio de Janeiro; dois na Bahia; um no Maranhão; um na Paraíba e um no Piauí (veja quadro).
Até o último sábado, o ministério recebeu 1.761 notificações de casos suspeitos da malformação em 422 cidades de 14 unidades federativas. Em Pernambuco, primeiro estado a registrar o aumento, há 804 suspeitas, seguido pela Paraíba (316) e pela Bahia (180). No Distrito Federal, está em análise uma ocorrência.
A pasta anunciou, ainda, a mudança de protocolo de notificação e assistência às crianças com a malformação. Desde segunda-feira, o ministério considera 32 centímetros de perímetro cefálico a medida para identificar se um recém-nascido possui microcefalia, assim como determina a Organização Mundial de Saúde (OMS). Antes, o perímetro considerado normal deveria ser maior que 33 centímetros. Os casos, agora, serão classificados em notificados, confirmados e descartados.
Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do ministério, afirmou que "é uma proporção razoável a de crianças no limite da curva, entre 32 e 33 centímetros." Entretanto, ainda não há dados oficiais de quantas suspeitas serão descartadas com a mudança de parâmetro, que deve reduzir o número de notificações nas próximas semanas.
"O perímetro cefálico nada mais é que um rastreio. A partir daí, você investiga, deflagra exames para confirmar ou não a microcefalia. A doença não é só o perímetro reduzido: ela inclui um atraso no desenvolvimento psicomotor, atraso de ganho intelectual, coordenação, convulsões, malformações cerebrais. A criança pode ter crises convulsivas, um choro maior, não consegue sugar o leite e não raramente tem que ser alimentada por sonda", esclarece Mauro Suzuki, neurocirurgião do Hospital Santa Luzia, em Brasília.
O neurocirurgião explica que, após o diagnóstico inicial, uma investigação mais profunda se sucede, por meio de tomografias, testes genéticos e exames de sangue para rastrear outras infecções que podem ser causadas pela condição, como rubéola e toxoplasmose. "O que causa uma certa estranheza é que, como é uma doença nova, quanto mais casos você investigar, melhor. Teoricamente, agora não seria o momento de restringir o número de suspeitos, mas de aumentar."
Alguns laboratórios, segundo Maierovitch, informaram que pesquisas para criação de uma vacina contra o zika estão em andamento, mas que é um processo demorado. "Não vamos vender falsas expectativas. Habitualmente, o tempo de desenvolvimento é maior que cinco anos, em torno de dez, supondo que as coisas deem certo. Nós não esperamos que uma vacina para zika se desenvolva num curto espaço de tempo, mas esperamos que ela não chegue ao período que geralmente demora", disse.
"Existem pesquisadores interessados e o plano emergencial prevê a possibilidade de que eles pleteiem recursos para suas pesquisas", garantiu. A campanha do governo para enfrentar não apenas zika, mas também dengue e chikungunya, pede a atenção dos brasileiros a locais de acúmulo de água.
Planalto
Ontem, a presidente Dilma Rousseff promoveu reunião para reforçar as medidas de combate ao mosquito e controle da microcefalia. Estavam presentes os governadores ou vice-governadores de 25 estados e prefeitos de cinco municípios, além dos ministros Jaques Wagner, da Casa Civil; Aldo Rebelo, da Defesa; Marcelo Castro, da Saúde; e Gilberto Occhi, da Integração Nacional.
Marcelo Castro anunciou a criação de um centro de monitoramento e controle de desastres para acompanhar a crise do vírus zika. "Dilma entendeu a gravidade da situação, colocou o Exército na campanha. É um caso de extrema gravidade", disse.
Em Pernambuco, o trabalho de combate ao mosquito conta com o reforço de 200 homens do Exército. Até o fim do mês, outros 550 militares das Forças Armadas serão capacitados para atuar.
No último sábado, a presidente lançou um plano de enfrentamento à microcefalia causada pela infecção por zika, em Recife. Além da intensificação do controle da proliferação do mosquito da dengue, o governo prometeu a abertura de mais centros de reabilitação para as crianças portadoras de microcefalia, que precisam de tratamentos com terapeutas, fonoaudiólogos e fisioterapeutas devido aos comprometimentos mentais e motores que a condição gera.
Correio braziliense, n. 19189 , 09/12/2015. Brasil, p. 7