Pesquisas ameaçadas na UnB

Rafael Campos 

09/12/2015

Alunos de pós-graduação da Universidade de Brasília em Ceilândia (FCE) cobram da instituição a instalação de geradores, sob o risco de pesquisas importantes serem perdidas em razão das quedas de energia que ocorrem na região. A entidade tem dois desses aparelhos há cinco anos, que jamais foram instalados. Pelo menos 25 estudantes de mestrado temem que, com a chegada do período chuvoso, a instabilidade no serviço de distribuição de energia possa inviabilizar seus trabalhos.
A veterinária Karolynne Morais, 27 anos, já foi prejudicada. Amostras biológicas do seu estudo sobre o composto MST312, que pode resultar em um novo protocolo de identificação de células com câncer, ajudando no diagnóstico, foram perdidas em outubro, quando o câmpus ficou às escuras por 12 horas. O caso afetou seu trabalho. “Há células que precisam ser mantidas congeladas a 80°C e que não podem ser colocadas à temperatura ambiente”, explica.


A pesquisadora ainda afirma que há exemplares mantidos em estufa, vivos. Caso não haja fornecimento de energia elétrica, a resposta ao estudo é alterada. “O composto vai ser testado agora e precisamos de, pelo menos, três meses de análise. Se não há distribuição, pode haver mudança na estrutura da célula e isso elimina a possibilidade de uma resposta concreta, já que elas são instáveis.”


O prejuízo intelectual não é único. De acordo com Diego Madureira, orientador da pesquisa e professor de bioquímica da FCE, o valor das máquinas que estão no câmpus hoje pode chegar a R$ 4 milhões. “O desligamento descalibra os equipamentos, o que já causa problemas. Mas, se os episódios se tornarem mais constantes, eles podem até mesmo queimar.” Além desse risco, Diego frisa que o gasto com materiais quadruplicou, já que está sendo necessário congelar, mensalmente, alíquotas do experimento, para garantir que não haja uma perda maior no caso de outra queda de energia. “Já cobramos mais de uma vez e sempre nos dão explicações diferentes”, diz.


O vice-diretor da FCE, Araken Werneck, garante que a Prefeitura do Campus (PRC), órgão responsável pelos serviços de infraestrutura na UnB, foi alertada há mais de um ano sobre a necessidade de um gerador no câmpus da Ceilândia. “Nós enviamos toda a documentação pertinente em outubro de 2014, mas só eles podem dar início ao processo, que está parado.” Ele afirma que um engenheiro elétricista esteve no local, mas que não deu qualquer perspectiva sobre quando o trabalho começa.


Subestações
Segundo a PRC, os geradores devem ser instalados no início do segundo semestre de 2016. De acordo com o prefeito Marco Aurélio Gonçalves de Oliveira, o projeto que deu origem à FCE não previa a instalação de geradores nos laboratórios. “Mas a prefeitura assumiu esse compromisso. Fizemos a visita ao local para direcionar quais aparelhos podem ser atendidos pelos geradores. A lista de materiais já foi feita e estamos esperando o fechamento do orçamento de 2016 para começar o pregão.” Oliveira afirma que, a não ser que haja um corte inesperado de gastos, a obra será concluída no ano que vem.


De acordo com a Companhia Energética de Brasília (CEB), o câmpus, que oferece seis cursos de graduação e dois programas de pós-gradução, não tem casos constantes de queda de energia. A empresa garante que a construção de uma subestação em Samambaia e outra em Taguatinga Norte aliviou o trabalho da subestação Ceilândia Sul, responsável pela distribuição na região. “Eu deixo meus dois filhos na creche, pego quatro conduções, me esforço para tentar pesquisar algo que pode trazer melhoria para a vida de muitas pessoas e fico numa situação como essa. É um absurdo”, desafaba Karolynne Morais.

 

Correio braziliense, n. 191189 , 09/12/2015. Cidades, p. 24