O Estado de São Paulo, n. 44618, 15/12/2015. Metrópole, p. A16

Zika será notificada por exame clínico; governo vai distribuir teste de gravidez

 

A notificação de casos de zika vai mudar no País. Médicos vão poder informar para autoridades públicas de saúde casos da doença com base no diagnóstico clínico, independentemente da confirmação de exame laboratorial. Em outra frente no combate à doença, desta vez ligada à microcefalia, o Ministério da Saúde lançou ontem novo protocolo médico e prevê distribuir até 10 milhões de testes rápidos de gravidez.
O zika vírus infectou ao menos meio milhão de brasileiros neste ano, de acordo coma estimativa mais otimista do Ministério da Saúde. O Brasil já soma 1.761 casos suspeitos de microcefalia, com 19 mortes de bebês notificadas.Para mudar as notificações, será preciso que esteja comprovada a circulação do vírus na região, por meio de exames realizados em laboratórios regionais. Com a medida, que deverá ser anunciada nos próximos dias, o Ministério da Saúde quer ter uma noção mais exata da dimensão dos casos registrados atualmente no País. Até agora, somente eram considerados casos de zika aqueles que haviam sido comprovados por meio de exames.
O problema é a dificuldade para realizar o teste. Como não há kits de diagnóstico para identificação de anticorpos no sangue do paciente, as análises realizadas são feitas por meio da busca de fragmentos do vírus. Um exame caro, demorado e trabalhoso.
Essa limitação fez com que poucos casos da doença fossem de fato registrados como zika.
Há suspeita – sobretudo nos Estados do Nordeste – que grande parte dos casos informados como dengue, na verdade, é de zika. Para permitir a mudança nas regras para notificação de casos, o governo vai credenciar laboratórios estaduais para identificação do vírus. A ideia é chegar a pelo menos 45 centros de avaliação.
A mudança no protocolo começou pelo Estado de Pernambuco,que concentra a maior número de casos no País. Com a mudança, a notificação seguirá um critério semelhante ao que é adotado no País para dengue.
Identificado um número de casos da doença, a notificação é feita somente com base no diagnóstico clínico, independentemente de resultados de exames laboratoriais.
O vírus zika chegou ao Brasil no início do ano. Na sequência, espalhou-se por 14 Estados e provocou epidemia no Nordeste. Transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti, o vírus era considerado como pouco ameaçador. A prática, no entanto, mostrou o oposto.
Grávidas. O Ministério da Saúde também vai repassar para Estados e municípios recursos suficientes para aquisição de 10 milhões de testes rápidos de gravidez, 5,8 vezes mais do que a média repassada nos últimos três anos.A iniciativa, anunciada ontem pelo governo, tem como objetivo identificar precocemente mulheres com suspeita de gravidez para que se protejam contra o zika. A pasta quer ainda aumentar a busca ativa de mulheres em idade fértil e garantir a oferta de métodos contraceptivos, caso não haja interesse em engravidar.
As medidas fazem parte do protocolo de atenção à saúde para microcefalia, um manual dirigido para profissionais da área com orientações para o atendimento adequado à gestante e ao bebê com diagnóstico da má-formação. Os testes rápidos de gravidez estarão disponíveis para toda população feminina. Atualmente, esses exames são ofertados apenas na Rede Cegonha. Cada teste custa R$ 0,56.
“Quanto antes a mulher souber da sua condição de gestante, melhor. O fundamental é que tomem todos os cuidados necessários para reduzir o risco de contaminação”, afirmou o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame. Atualmente, cerca de 50% das gestantes iniciam o pré-natal depois da 12.ª semana de gestação, um início considerado muito tardio.
“Queremos mudar essa realidade”, completou o secretário.
Com acompanhamento precoce,mulheres serão orientadas a adotar medidas de prevenção contra o vírus e a tomar as vacinas adequadas.
O plano prevê ainda aumentar as visitas domiciliares de agentes de saúde e de endemias, para identificar gestantes que tenham suspeita de ter tido contato com zika. O vírus é transmitido pela picada do Aedes aegypti contaminado.
Se a mulher apresentar sintoma de zika – febre, coceiras e manchas vermelhas pelo corpo –, os sinais serão anotados na caderneta da gestante. “Isso vai acelerar também o acompanhamento do bebê, caso ele apresente microcefalia”, afirmou o secretário.