BC não descarta alta de juros

Antonio Temóteo

04/12/2015

O Banco Central (BC) avisou ontem ao mercado que nem a crise política e nem a depressão econômica o farão desistir da ideia de subir os juros. O recado dado não se limitou às informações publicadas na ata do Comitê de Política Monetária (Copom). O BC também escalou o diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Coorporativos, Tony Volpon, para reforçar o discurso junto a investidores, em evento promovido em São Paulo (SP), pelo banco de investimentos J.P. Morgan.

 


Voto vencido na última reunião do Copom que decidiu manter a Selic em 14,25%, Volpon sinalizou que os juros devem subir para garantir que as estimativas dos analistas para a carestia diminuam. "Eu acredito que temos que agir e responder de forma contundente e tempestiva para retomar o processo de ancoragem das expectativas inflacionárias e disciplinar o processo de formação de preços", destacou. Segundo o diretor do BC, esse processo é essencial para o que a economia brasileira volte a crescer.


O discurso de Volpon foi convergente com a ata do Copom, divulgada ontem, em que o BC afirma que adotará as medidas necessárias para que a inflação fique o mais próximo possível de 4,5% em 2016, e que convirja para o centro da meta de 2017. Sem divulgar os percentuais, a autoridade monetárias ainda informou que suas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram para 2015 e se mantêm acima do centro da meta para o próximo ano. Essas estimativas serão conhecidas ainda em dezembro, com a publicação do Relatório Trimestral e Inflação.


Apesar dos sinais apontarem para a alta da Taxa Básica de Juros (Selic) no próximo ano, no entanto, economistas avaliam que isso não ocorrerá porque levaria o Produto Interno Bruto a encolher ainda mais.

Desconfiança

Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, o discurso adotado pelo BC sinaliza que uma alta de juros deve ocorrer, mas não deixa claro quando. Oliveira ressaltou que mesmo com todas as indicações o cenário macroeconômico aponta para um aprofundamento da recessão e para uma queda do IPCA. "Vejo um risco maior para a atividade econômica. Por isso o BC deve manter a Selic inalterada durante o próximo ano", comentou.


O economista-chefe da Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, afirma que apesar de o BC ter deixado em aberto a possibilidade de subir os juros, dificilmente terá espaço para isso. Na opinião dele, o aumento da Selic agravaria ainda mais a recessão. "Nesse momento de incertezas políticas, com discussão de impeachment, o país ficará ainda mais paralisado. Nunca vivemos um momento de crise como esse", comentou.


Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, os juros permanecerão estáveis até o segundo semestre de 2016, quando o BC iniciará um processo de redução da Selic. "As chances de a inflação se acelerar no próximo ano são muito remotas em um ambiente econômico depressivo, menor nível já visto de utilização da capacidade instalada da indústria e nível mais baixo de confiança das famílias e dos empresários", destacou Barros.

 

Correio braziliense, n. 19184, 04/12/2015. Economia, p. 12