HIV avança entre população jovem

Nívea Ribeiro 

02/12/2015

No Dia Mundial de Luta contra a Aids, ontem, o Ministério da Saúde apresentou resultados positivos. Mas o país ainda enfrenta desafios para o controle da epidemia no país. Entre 2013 e 2014, a taxa de detecção de aids (casos novos por 100 mil habitantes) caiu de 20,8 para 19,7 - redução de 5,5%. Foi o melhor índice dos últimos 12 anos, de acordo com os dados divulgados no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde. Foram notificados 41.814 casos em 2013. Em 2014, os registros marcaram 39.181. Até o fim de junho deste ano, as notificações chegaram a 15.181. Entretanto, os números relacionados a pessoas entre 15 e 24 anos apresentaram tendência inversa de 2004 a 2014 - aumento de 41% na taxa de detecção e de 37% nos casos notificados. 

Segundo o ministro Marcelo Castro, a escalada do problema entre jovens é um fenômeno mundial. "Os jovens estão nos preocupando. Parece que houve um 
certo relaxamento, um descuido. Por isso, nossa campanha este ano foca neles. É uma doença gravíssima e tem que ser enfrentada com o devido cuidado, não pode haver tolerância", afirmou. 

Para Fábio Mesquita, diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, houve um enfraquecimento da preocupação dos jovens com a aids. "É uma juventude que é mais liberal que a das décadas de 1980 e 1990 e que não viveu aquele momento mais dramático, quando não tínhamos tantos recursos como hoje. Ao mesmo tempo, alguns dos heróis dessas gerações, como Cazuza, Freddie Mercury e Magic Johnson, eram símbolos da luta contra a aids, e isso foi se esvaziando com o passar do tempo, fruto da resposta positiva global à epidemia." 

Este ano, a campanha do governo divulga a qualidade de vida que a pessoa que tem o vírus HIV adquire ao fazer o tratamento, gratuito e disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Fora o benefício que traz ao portador do HIV, o tratamento é visto como uma estratégia importante para controle da transmissão, esclareceu Mesquita: "Esse vírus só pode se transmitir por quatro fluidos: sangue, secreção vaginal, esperma e leite materno. Não existe nenhum outro veículo de transmissão. Quando a gente suprime a carga viral, introduzindo o tratamento, essa pessoa não vai ter vírus circulando e ela para de transmitir o HIV". 

Metas 

O Brasil se comprometeu, junto da Organização Mundial de Saúde, a participar do controle global da doença até 2030. Para os próximos cinco anos, o objetivo é conhecido como 90-90-90: 90% das pessoas testadas, 90% tratadas e 90% com carga viral indetectável, ou seja, tratadas, sem a possibilidade de transmitir o vírus. 

A estimativa é de que 781 mil pessoas vivam com HIV ou aids no Brasil. Dessas, 702 mil já foram diagnosticadas e 649 mil estão em tratamento. Entre os tratados, 405 mil estão em supressão viral. "Nós estamos com 88% em supressão viral. O que ainda está distante é o número das pessoas fazendo o tratamento (62%), porque mudamos o procedimento", explicou o ministro. Até 2013, pacientes que não tivessem comprometimentos no sistema imunológico não recebiam indicação de tratamento. Depois da mudança de protocolo, eles tiveram acesso aos medicamentos. 

No início da semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária liberou a venda dos chamados autotestes, que serão vendidos em farmácias para identificação rápida e domiciliar do vírus HIV. A previsão é que os autotestes cheguem ao mercado no primeiro semestre do próximo ano. "Isso vai pegar um nicho importante, uma parcela da população que tem vergonha de pedir para o médico para fazer o teste, de ir até um centro de saúde. Acho que vai ser uma grande novidade para 2016", disse Mesquita.

 

Correio braziliense, n. 19162, 02/12/2015. Brasil, p. 6