Título: Chefe de batalhão mandou matar juíza
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Fonte: Correio Braziliense, 28/09/2011, Brasil, p. 8

Segundo a Divisão de Homicídios, o tenente-coronel Cláudio Luiz Oliveira, exonerado ontem, arquitetou a execução de Patrícia Acioli porque era investigado por ela em casos de corrupção policial Publicação: 28/09/2011 02:00

Autor intelectual do crime. É assim que o delegado da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Ettore, define a participação do tenente-coronel Cláudio Luiz Oliveira, ex-comandante da PM, no assassinato da juíza Patrícia Acioli ¿ ocorrido na madrugada de 12 de agosto, em Niterói (RJ). Cláudio foi preso ontem e chegou à Divisão de Homicídios alegando inocência: "Sou inocente e tenho certeza de que isso vai ficar provado. Não tenho conhecimento do depoimento de ninguém (sobre o caso da morte da juíza)", disse.

A Justiça decretou a prisão do policial após um dos cabos suspeitos de terem executado a juíza ter relatado ao juiz Peterson Barroso Simões que o tenente-coronel era o mandante do assassinato. O cabo, que estaria ameaçado de morte, obteve o direito à delação premiada, que inclui provável redução de pena. Ele e a família foram incluídos no programa de proteção a testemunhas.

O delegado da Divisão de Homicídios explicou que o tenente-coronel mandou matar a juíza porque estava sendo investigado por ela em casos de execuções e corrupção policial na região de São Gonçalo, Região Metropolitana do Rio. "Ele foi o autor intelectual desse crime. Há testemunhos de que a juíza gostaria de prendê-lo, estava buscando elementos para comprovar a participação em crimes. E ele lançou mão desse artifício para não ser preso", afirmou Ettore. Ainda segundo o delegado, a morte da juíza vinha sendo planejada desde abril. O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, enfatizou: "Existem diligências a serem feitas, mas temos fatos confessados na presença de um juiz, de dois promotores e de dois defensores".

De acordo com o corregedor da Polícia Militar, coronel Ronaldo Menezes, não existem processos internos contra o tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira. "Evidentemente que, após todos esses fatos, será deflagrado um processo administrativo, mas, para sua deflagração, temos que ter uma documentação que nos dê sustentação para iniciar esse processo (administrativo)", afirmou.

Exoneração O processo poderá resultar na demissão do ex-comandante dos quadros da corporação. O tenente-coronel já foi exonerado do comando do 22º BPM (Maré). Antes de ficar à frente do batalhão da Maré, ele comandou o de São Gonçalo e a mudança de posto foi feita uma semana após a morte de Patrícia Acioli. Segundo o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, a transferência não teve relação com a morte da magistrada. "Investigação a gente fica quieto e apresenta resultado (...) Não há nem um tipo de proteção. Nem a ele nem a ninguém", afirmou.

Oliveira será levado ao presídio Bangu 8, onde cumprirá prisão temporária de 15 dias. Além do tenente-coronel, mais seis policiais militares tiveram a prisão decretada no fim da noite de segunda-feira, sendo que cinco já estavam presos por outro crime. Eles faziam parte do Grupo de Ações Táticas do Batalhão de São Gonçalo e são suspeitos de forjar um auto de resistência, morte em confronto, para esconder o assassinato de Diego Bellini, 18 anos, durante uma operação policial. Outros três policiais militares acusados de terem executado a juíza foram presos um dia após o enterro da magistrada, detenções decretadas por Patrícia Acioli horas antes de ser assassinada.

Abuso de autoridade O comandante Cláudio Luiz de Oliveira foi processado pela juíza Patrícia Acioli também em 1989, quando ela ocupava o cargo de defensora pública. Na época, ela recebeu voz de prisão de Oliveira e o processou por abuso de autoridade. O episódio aconteceu em função de uma partida de futebol entre Brasil e Chile no Estádio do Maracanã. Segundo o coronel, Patrícia fazia parte de um grupo de torcedores envolvidos em uma briga, inclusive com agressão a policiais. Cláudio Luiz de Oliveira trabalha há 26 anos na corporação. Ele concluiu o curso de operações policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) em 1989 e chegou a ocupar chefias do batalhão.