Correio braziliense, n. 19220, 09/01/2016. Cidades, p. 19

Confirmada primeira contaminação de zika no DF

09/01/2016 - Fonte:  Correio Braziliense - Edição Digital 

 

 

Tiago Coelho e Robinson Capucho Parpinelli anunciaram os novos casos do DF: cerco ao mosquito na capital (Carlos Moura/CB/D.A Press)

Tiago Coelho e Robinson Capucho Parpinelli anunciaram os novos casos do DF: cerco ao mosquito na capital



A luta contra infecções de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti continua atormentando autoridades sanitárias. A capital federal se tornou território onde há o contágio do zika vírus. A Secretaria de Saúde confirmou, ontem, que duas mulheres grávidas estão com a doença - que é associada à microcefalia. Uma delas contraiu  zika  no Distrito Federal, já que não viajou nos últimos meses. O governo local preparou um protocolo de atendimento para pacientes nessa situação. Ao todo, o DF tem quatro casos registrados da doença desde o ano passado. 

Asa Norte e Águas Claras são as regiões administrativas que despontaram no triste panorama. Mas o cenário é ainda mais pessimista e esconde os riscos. Ainda estão em investigação sete casos suspeitos. No ano passado, a Secretaria de Saúde notificou dois casos da doença no DF. Contudo, as contaminações ocorreram em Salvador e Teresina. 

As novas pacientes têm 29 e 36 anos e estão no início do segundo trimestre e do terceiro trimestre de gravidez, respectivamente. A mais nova mora no Plano Piloto e foi atendida na rede particular. Ela não viajou nos últimos dois meses, ou seja, contraiu a doença na capital - o primeiro caso registrado. A Secretaria de Saúde reúne informações para traçar o possível endereço de contágio, por exemplo, o local de trabalho ou um lugar visitado frequentemente. "Ela realizou um exame de ultrassonografia e constatou que o bebê está com o perímetro cefálico normal", detalhou Tiago Coelho, subsecretário de Vigilância à Saúde. A jovem teria sentido os sintomas da infecção nos últimos dias de dezembro. 

A outra paciente, moradora de Águas Claras, pode ter contraído a doença em Goiânia (GO). A mulher passou uma semana na cidade distante 200km de Brasília. "A paciente diz ter apresentado alguns sintomas no começo do ano. Ainda não temos a garantia de que ela tenha importado a doença", explica Tiago. A literatura médica alerta que cerca de 80% das pessoas que contraem o zika não apresentam sintomas, como febre baixa, manchas vermelhas pelo corpo e coceira. 

Combate 
A Vigilância Ambiental fará o combate do Aedes aegypti nos locais próximos à residência das duas mulheres. O bloqueio sanitário será em um raio de 300 metros, local em que equipes de saúde usam inseticidas para matar o mosquito adulto. Outra medida será uma ação conjunta entre 120 militares do Exército, 50 da Marinha, 100 bombeiros, além de agentes da Defesa Civil e da Vigilância Ambiental, na Asa Norte, na Asa Sul e no Lago Norte. A força-tarefa começa na segunda-feira. "Precisamos controlar o vetor (mosquito). Não há outra alternativa", diz Tiago. Hoje, cerca 500 servidores atuam na prevenção, mas seriam necessários 1,3 mil - deficit de 61,5%. 

Para receber os pacientes contaminados, o governo traçou um protocolo de atendimento. As gestantes terão prioridade. Os hospitais de Base (HBDF) e Materno Infantil de Brasília (Hmib) serão as unidades de referência na recepção dos casos. A neurologia do Base, por exemplo, ficará responsável por monitorar as interferências do zika em homens e mulheres não grávidas. "Vamos fazer o que for possível para controlar essas doenças, que colocam a população em risco eminente. Essa é a primeira versão do documento, mas, com o comportamento das infecções e do número de casos, vamos atualizando", adiantou Robinson Capucho Parpinelli, subsecretário de Atenção à Saúde. 

Entorno 
Santo Antônio do Descoberto, a 40km de Brasília, teve o terceiro caso de zíka vírus confirmado. Trata-se de uma gestante, moradora do Parque 14, que não teve a idade divulgada. O Laboratório Central (Lacen-DF) emitiu o diagnóstico. "Ainda não recebemos as informações completas da paciente. Amanhã (hoje) faremos uma visita à casa dela", destacou a Assessoria de Comunicação da prefeitura do município, por telefone. Os outros dois pacientes são uma criança de 2 anos e outra gestante de 22 anos. 

Ontem, a reportagem mostrou que Goiás está em alerta para o avanço do zika. Lá, são quatro confirmações e 62 suspeitas. Ao todo, nove municípios estão com alto risco de contaminação por dengue. Em 2015, a Secretaria de Saúde de Goiás notificou 189.030 casos suspeitos - 95.700 confirmados. O índice apresentou disparada em relação a 2014 - 53,41%. No total, 81 goianos morreram com complicações da doença. Outros 50 óbitos estão sendo investigados. 

Para o hematologista Rafael Jácomo, o essencial é atacar o mosquito. "Não adianta o governo distribuir teste para a população. A cidade está com o vírus circulando, o que pode infectar outras pessoas. Temos que combater o Aedes e notificar os casos." Não há teste rápido para o zika vírus. Em média, leva-se quatro dias para a confirmação da doença em análises laboratoriais. 



Memória

Questão de tempo
 
A Secretaria de Saúde alertou à capital federal para os riscos do Aedes aegypti em outubro. A pasta temia que a capital federal entrasse na rota de transmissão de doenças como zika vírus, chikungunya e dengue, e desencadeasse surtos. O Núcleo de Controle de Endemias e a Subsecretaria de Vigilância à Saúde (SVS) chamaram a atenção para a quantidade de possíveis focos do mosquito. Ainda que os números relacionados aos casos estejam estáveis, há discrepância entre o controle das doenças e a incidência do vetor. O Correio mostrou, em dezembro, que os agentes não conseguiam entrar em 30% das casas vistoriadas. Ao todo, o governo notificou 30 domicílios por desrespeitarem parâmetros da prevenção. O GDF pretende aplicar multas entre R$ 2 mil e R$ 1,5 milhão para os reincidentes. 



Risco 
Veja a diferença entre as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti 

Dengue 
» Febre, dores moderadas pelo corpo e pelas articulações e manchas vermelhas na pele. 

Chikungunya 
» Febre alta, dores intensas pelo corpo e pelas articulações, manchas vermelhas na pele a partir do segundo dia de contaminação, coceira e vermelhidão no olhos. 

Zika 
» Febre baixa, manchas vermelhas pelo corpo nas primeiras 24 horas de contaminação e coceira intensa. 

Fonte: Fiocruz 



Aedes na capital

1996
 
» Primeiro surto de dengue no Distrito Federal. 

2005 
» O Programa Nacional de Controle da Dengue, do Ministério da Saúde, considera DF prioritário. 

2008 
» É feito um alerta de risco de epidemia de dengue no DF e outras 16 unidades da Federação. 

2013 
» Surto de dengue atinge mais de 12 mil pessoas. Casos aumentaram 733% naquele ano. 

2015 
» A Secretaria de Saúde lança o Plano de Ação para o Enfrentamento às Doenças Transmitidas pelo Aedes aegypti para conter o avanço do mosquito. 

2016 
» É confirmado o primeiro caso de infecção por zika vírus na capital federal.